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quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

CULTURA - como forma de resistência e redenção política, econômica e educacional



Rodolfo Tokimatsu*  



Contrapondo-se a Leon Trotsky, quando afirmou, ainda no final dos anos 1930, que “diante da mediocridade da sociedade ocidental, a melhor arma é o silêncio, portanto, não é tempo de uma nova cultura”... nós da Quebrada, no entanto, afirmamos que sim, é tempo de uma nova cultura, e mais, de uma cultura permanente que não morre, mas se renova e se inova e se fortalece; é diante desse apogeu da mediocridade que as sociedade ocidental mergulha, sobretudo, a sociedade brasileira, que não só é tempo, como é necessária uma nova cultura, com todas as culturas unidas e integradas incluídas e respeitadas, como única forma viável de se bater de frente a essa onda de mediocridade que, ao que parece, toma ares de verdade absoluta para uma maioria expressiva da sociedade. Atravessamos um período política e culturalmente nefasto, um prenúncio de barbárie e retrocesso histórico, que é semeado pelas redes sociais, no Brasil, desde 2013, a princípio, mascarado como um protesto contra o aumento da tarifa do transporte público e, posteriormente, contra o governo de tendências progressistas vigente, propagando, em contrapartida um discurso conservador e contra as reformas sociais, reivindicando desmantelamento de programas sociais, clamando pela volta de políticas ultrapassadas e autoritárias, como o regime militar e propagando discursos de ódio, a princípio, contra o pensamento da esquerda, voltado às classes menos favorecidas, propondo o fim dos direitos trabalhistas e da aposentadoria para os trabalhadores, o desmantelamento do serviço público, em benefício aos interesses empresariais privados, gerando um argumento mentiroso de que o funcionalismo público concursado e um suposto excesso de direitos da classe trabalhadora e dos aposentados seriam a causa de uma suposta crise do país e engrossando esse discurso com ideias e propostas racistas, homofóbicas, machistas, misóginas, anti-intelectualista, anticultural e a todos que abrangem as conquistas sociais, resgatando, no grosso da população todo seu ódio e preconceito então latente, jogando a população contra seus próprios semelhantes. Nesse “modismo” da demonização, dois elementos essenciais para a formação da sociedade e do indivíduo e para a construção da nação, se veem mais atacados, tanto moral, quanto economicamente- a Cultura e, em especial, a Educação. Assistimos ao desmantelamento progressivo da escola pública desde as últimas três décadas, quando governos privatistas, comprometidos com interesses individuais e o capital internacional promoveu uma avalanche de “privataria”, atingindo todos os setores públicos, desde a educação, até a saúde, passando pelas indústrias estatais essenciais para a economia do país e provocando uma crise enorme não só na economia, mas na saúde, na educação e na cultura, setores que nunca deveriam estar nas mãos de interesses econômicos privados, sejam estes nacionais ou multinacionais. Porém, ultimamente, com a ascensão dos governos progressistas eleitos entre 2002 e 2014, o Brasil consegue, em parte, sanar essa crise de ordem econômica e cultural, desenvolvendo programas sociais de renda mínima, investindo em infraestrutura em locais antes esquecidos pelo poder público, quitando a dívida externa e promovendo alguns avanços na área de educação e cultura, como as políticas de diversidade cultural e educacional e o sistema de inclusão nas escolas e os pontos de cultura, dando voz à periferia e às comunidades com pouca voz, ou nenhuma, fomentando o resgate da potencialidade dos povos que compõem essas comunidades. Porém, essa onda progressista foi banida do governo por ações de ódio, calúnias, mentiras e ameaças de todo o tipo contra pessoas ligadas ao governo e às minorias, como negros, indígenas, LGBT, quilombolas, Sem Terra, Sem Teto, sindicatos, mulheres, etc. Agora, eleito o novo(?) governo, esse retrocesso cresce consideravelmente, com propostas toscas, beirando o absurdo, como combate a uma suposta “ideologia de gênero”, que, segundo os lacaios dessa barbárie, “ensina as crianças a mudar de sexo”, entre outros absurdos. Propõem retrocessos educacionais como a volta de disciplinas como Educação moral e civismo, propõem, também, acabar com disciplinas essenciais à formação do caráter social do indivíduo, como história, geografia, filosofia, sociologia, etc., em benefício a um discurso equivocado, mal intencionado, de caráter belicoso e falso- moralista de preconceitos e ódio, que vêm prontos à sociedade como uma verdade redentora, que vem para banir toda aquela ideologia infernal que estaria sendo propagada pelo ensino público e pela gente que faz cultura. Com isso, o profissional da educação é demonizado e falsamente posto como inimigo da família, da moral e dos bons costumes e seu trabalho, cada vez mais desvalorizado, o serviço público é sucateado e os acordos fisiologistas e clientelistas com a iniciativa privada com o interesse geopolítico de alguns países do dito primeiro mundo crescem descomunalmente e acabam por determinar os rumos políticos, econômicos e culturais do país. Esse processo de mediocrização da sociedade reduz ainda mais o conceito amplo e abrangente do termo “cultura”, limitando-o a um ou outro segmento cultural, embaçando uma visão mais ampla e global do termo, criando uma ideia de cultura simplista e superficial, ao sabor do senso comum. Assim, “cultura” fica sendo para alguns, “algo ligado à educação instrutiva, ao intelectualismo”, outros, “às artes e manifestações folclóricas”, e, ainda, a “cultura de comunicação de massa”,mas ignorando o poder abrangente que essa palavra possui e prejudicando toda a nação e um povo que produz cultura, em todos os sentidos. Essa visão estreita, para não dizer cega em relação à cultura, ao invés de fomentar a produção e a justa distribuição cultural para todo o povo, cria segmentos elitizados que se destacam socialmente e usufruem de regalias e mamatas dos subsídios que deveriam fomentar a cultura de um modo geral. Assim, surgem lobbies de artistas, educadores, intelectuais, empresários, todos querendo “abocanhar” uma fatia desse amplo “bolo cultural”, que na verdade é uma visão ínfima de algo tão abrangente, mas que acaba por consumir recursos que poderiam criar uma economia popular e forte, geradora de renda, motivadora da economia e angariadora de impostos, sobretudo. Nós, da Quebrada, no entanto, sabemos que a cultura é muito mais que isso, mesmo porque somos produtores e, ao mesmo tempo, produzidos por uma ou várias culturas interligadas. Para o professor Victor Vich, a cultura é “a soma do que produzimos, como produzimos e como somos produzidos. É a soma de ‘saberes e fazeres’...”, portanto, um termo abrangente, que carece de muita vivência cultural e vontade política para torná-lo prático e tornar o povo autônomo e soberano. Vich ainda salienta que “ somos seres culturais, porém, alienados de nossa própria produção cultural”. Essa “alienação”, à qual se refere Vich, não significa o que o senso comum entende por tal, isto é, pessoas alheias ou ignorantes da realidade cotidiana, mas, numa concepção marxista, uma privação de si e dos seus, por exemplo: Um carro com motor alienado significa que esse motor está em outro carro. O mesmo ocorre com o povo que produz cultura, mas esse produto é apropriado por terceiros. O trabalhador é alienado do fruto de seu trabalho porque a mais- valia apropria-se desse fruto para o patrão, ainda que não tenha sido este quem trabalhou para produzi-lo. No programa “Jornalista desempregado”, produzido pela Careta Filmes, Nery Silvestre, em entrevista, nos fala dessa alienação da cultura pelo povo, dizendo que “ a cultura pode (e deve) gerar trabalho e renda, na potencialidade da pessoa, dentro das suas possibilidades”. Cultura é tudo o que um povo produz, portanto, não se limita à arte e ao ensino. Olhar por esse viés, além de limitar o conceito de cultura, o elitiza e transfere o poder cultural da grande massa para uma pequena elite. A cultura, em toda sua abrangência, gera trabalhos e produtos culturais, talentos, artes e obras, saberes e fazeres. Portanto, gera trabalho, economia e renda. Para Antônio Rubin, essa geração de renda e economia não significa que a cultura vá se submeter a um monopólio da comunicação, ao patrocínio da iniciativa privada, ou à tutela do poder público, porém, esses setores poderosos devem colaborar com a cultura da sociedade, pois fazem parte desta, é sustentado por esta e foi eleito por esta. Rubin enfatiza que a cultura faz sua auto gestão e o mercado de cultura é a própria gestão cultural que administra o produto cultural e não o patrocínio dessas elites. O povo que faz cultura não “mama nas tetas do estado”, ou se beneficia da “caridade” da iniciativa privada, quando angaria algum recurso para promover alguma obra cultural, mas esses poderes devem ceder esses recursos, porque fazem parte dessa sociedade e é sustentada e eleita por esta. Nestes tempos difíceis que atravessa o país e, em especial, a cultura, pela deturpação de má fé de todos os conceitos e termos para “adestrar” o senso comum, este inimigo da educação e da cultura, encaremos a cultura, em todas as suas abrangências, como única forma de resistência a esse limiar de ideias e atitudes neo- fascistas, por parte do governo eleito e de seus seguidores, ao mesmo tempo em que é o clamor do povo ao que é seu por direito e ao direito do que é seu. A cultura, portanto, propõe um resgate da dignidade do povo, dando poder a este de fazer sua auto gestão e administrar sua criação e produção, gerar sua própria economia, livre de “atravessadores culturais” ou atrelamentos a poderes públicos ou privados. Nery Silvestre enfatiza que “cultura não é status, glamour, frescura ou preciosismos. É, antes, fruto de trabalho e geradora de trabalho. É economia e geração de renda. É desenvolvimento de potencialidades e fomentação de ações populares, Não é e não tem a pretensão de ser, ou fazer uma revolução. É apenas a afirmação de um povo, a demonstração de sua capacidade, a criação de valores e produção de bens materiais e simbólicos. O povo quer apenas o que é seu de direito!”. 

*  Artista multimídia e correspondente da Quebrada - (TomMix Bala)

quarta-feira, 29 de junho de 2016

O Debate das Políticas Públicas da Cultura - Tarefa de Sísifo




Abaixo, a íntegra do pronunciamento de Dalila Teles Veras na mesa “QUALIDADE DOS SERVIÇOS PÚBLICOS – Saúde, Cultura, Educação, Esportes na vida das pessoas”, durante o XIV SEPPI - SEMINÁRIO DE POLÍTICAS INTEGRADAS, organizado pelas Universidades USCS, UMESP e  UFABC. O evento aconteceu no Campus Centro da Universidade Municipal de São Caetano do Sul, no último dia 08.06.2016.

A proposta do Debate foi a de que cada um dos integrantes da mesa fizesse um breve diagnóstico da sua respectiva área de atuação, na região do ABC, e perspectivas e desafios. Representantes das áreas de Cultura, Saúde, Educação e Esportes:  Dalila Teles Veras, escritora, ativista cultural e coordenadora do Fórum Permanente de Debates Culturais; Profª Dra.Vânia Barbosa do Nascimento, Chefe do Departamento de Saúde  Coletividade – Faculdade de Medicina do ABC); - Profª Ms. Diana Maria de Moraes, Coordenadora do GT Educação do Consórcio Intermunicipal do ABC; - Esportes Prof. Walter Figueira Jr.. Assessor da Secretaria de Esportes do Município de SCS, bem como o e dr. César Schneider – Chefe da Fiscalização do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo




Boa noite a todos. Meu agradecimento aos organizadores pelo honroso convite.
Iniciaria dizendo que, em face do confuso panorama da atual conjuntura política brasileira e do evidente desmonte das políticas públicas federais da cultura que, diga-se, ainda que falhas, a duras penas foram conquistadas, fica difícil evitar o desalento diante deste tema.

Mas quando não foi assim? Pergunto eu. Estamos acostumados, desde sempre, à  frustrante constatação de subirmos dois degraus para, logo a seguir, após a dança das cadeiras, despencarmos cinco. O desmanche e a reconstrução e a eterna descontinuidade. É como se estivéssemos praticando um alpinismo constante num terreno improvável no qual jamais se alcança o topo, pura tarefa de Sísifo.

Não tem sido diferente nas esferas municipais locais. A própria ideia de cultura, via de regra, é simplória, passadista e distante do debate qualificado que há anos a comunidade cultural acumulou e muito tem tentado levar para o debate oficial, sem êxito. Para a esmagadora maioria dos gestores públicos, a gestão da cultura ainda é pautada por eventos, política de balcão, agenda e demandas políticas.  Os produtores culturais e as questões da cultura são encarados, na maioria dos casos, como ornamentos cooptáveis.

A própria ideia de regionalidade não está posta, como nunca esteve, nos discursos da maioria de nossas lideranças políticas, muito menos nas práticas. Por receio, acredito, de dividir com o vizinho, o que se constata por aqui é a costumeira recusa das gestões públicas locais em promover ações regionais integradas e continuadas. Entre os gregos antigos, como se sabe, bárbaros eram os que não falavam sua língua. Entre nós, todo aquele que está fora da restrita esfera do poder municipal é considerado “estrangeiro”.  Aprenderiam muito ao observar e aprender com a cultura do outro, o comprometimento com a diversidade. Desta forma, como integrar cidades que falam sete diferentes “línguas” e se isolam dentro das respectivas fronteiras, ainda que ao longo de pelo menos as últimas duas décadas tenha havido esforços nesse sentido em momentos diversos, mas desgraçadamente descontínuos.

A justificativa costumeira é sempre a mesma, ou seja, a falta de recursos, quando na verdade é falta de políticas públicas que um plano regional de cultura construído a partir do debate amplo e da participação popular, e de linhas claras e objetivas, certamente daria conta.

Como o nosso tempo aqui é curto, farei uma síntese, lembrando algumas das mais significativas proposituras que ao longo das últimas duas décadas foram encaminhadas às Administrações públicas municipais ou instituições regionais, como Consórcio Intermunicipal. Momentos marcantes, nos quais um inestimável conteúdo de demandas, resultantes de massa crítica acumulada e discussões qualificadas, encontros, estudos, trocas e busca de referencial, contribuições que, via de regra, ficaram em alguma pasta de uma gaveta qualquer, da qual foi perdida a chave.  Fica a sensação, ao menos para aqueles que, como eu, dedicaram incontáveis horas e dias de seu tempo em contribuir para o bem comum, de que todo esse esforço foi atirado à correnteza do Rio Letes que passa ao largo do Tamanduateí. Houve, e é importante que se diga, também marcantes momentos em que a vontade política da gestão pública contribuiu  com esse pensar e com essa tentativa de construção. O problema é a descontinuidade, a fragmentação e o consequente esquecimento.

- Anos 90 - Data desse período, o Fórum da Cidadania, o Grupo Independente de Pesquisadores da Memória – GIPEM. A criação da Câmara Regional, o Consórcio Intermunicipal, as duas gestões progressistas de Celso Daniel o primeiro político a pensar a regionalidade, o Projeto Cidade Futuro, a mobilização e participação popular os Congressos de História que são realizados até hoje. Esforços para implantação dos Conselhos Municipais de Cultura também datam desses anos.

- Anos 2000 - Estimulado pelas intensas discussões e insatisfação da comunidade cultural, um grupo de pessoas funda, em novembro de 2007, o Fórum Permanente de Debates Culturais do Grande ABC. Ao longo dos 13 anos de ininterrupta atuação, o Fórum vem exercendo a cobrança de políticas públicas que possam dar respostas à altura das velozes mudanças locais e globais que requerem diálogos ao nível da sua complexidade. Em 2008, o Fórum é procurado pelo Consórcio Intermunicipal e convidado a participar do Seminário para o Plano Estratégico Regional 2000-2010, ocasião em que levou importantes contribuições àquela instituição, como rever e sugerir acréscimos de novos programas e subprogramas dos eixos estruturantes do Planejamento, projetando a cultura como central no cenário futuro do desenvolvimento regional, incluindo-se aí, o reconhecimento da cultura no processo educativo, como um valor inalienável da formação humana.
Nessa ocasião, a reivindicação de se criar um Núcleo Estratégico de Cultura no Consórcio foi prontamente atendida, sendo que, instalado a seguir, o GT nesse primeiro momento, foi coordenado por um representante da sociedade civil. Importante sublinhar que isso se deu, não por força de lei, mas por um princípio de reconhecimento, legitimidade e conveniência.
Nesse período, 2008 e 2009, o Fórum encaminhou diversos projetos resultantes de demandas recolhidas em seus constantes debates e trocas com outros coletivos, como um inovador Censo Cultural regional; Sugestões de parcerias entre Consórcio, Prefeituras, Universidades e movimentos populares emergentes da sociedade regional organizada; O GT elaborou ainda, junto às 7 Secretarias de Cultura ali representadas, um  Mapa de equipamentos e ações públicas de cultura; Projetou um programa de ações integradas na circulação regional de produtos de várias expressões artísticas. Em 2009, o GT idealizou e realizou a Conferência Livre de Cultura 7 Cidades.
Em 2010, com a mudança jurídica que transformou o Consórcio em órgão público e as respectivas mudanças estatutárias, foi vetada a participação da sociedade civil.  A partir, daí os resultados dessa atuação, com exceção de uma ou outra ação pontual, não se fizeram notar. 
O Fórum e outros atuantes coletivos da região seguiram promovendo, isoladamente ou em conjunto, importantes ações, destacando-se a Conferência Livre de Cultura em Santo André, reconhecida pelo MINC e I Encontro da Diversidade, ambos em 2013,  este último, uma realização da UFABC e SESC Santo André, a partir da iniciativa do Fórum Permanente de Debates Culturais do Grande ABC com a decisiva colaboração do Movimento Cultura Viva Santo André.  Do Encontro participaram ativamente nada menos do que 12 Coletivos de 6 cidades da região. Uma conquista da vontade coletiva, institucional e popular, resultado de um longo processo que veio para re-ligar e com-partilhar ações e pensares que de há muito ocorrem por aqui,  potencializados através das trocas e do conhecimento mútuo, com interessantes desdobramentos. Haveria muitos mais, mas o tempo nos limita.

Após este brevíssimo panorama, gostaria de apontar alguns Desafios que a meu ver se nos apresentam:

Numa região ainda periférica, mas de uma rica diversidade cultural a ser explorada, como ademais é a sociedade brasileira, são muitos os desafios, tanto oficiais quanto comunitários.

- O primeiro deles, a grande tarefa, no meu modo de entender, será  manter viva a memória da discussão e ações acumuladas, a título de bagagem para a partida de quaisquer novas iniciativas. Assim, não cairemos na tentação de quem tenta nos convencer de que tudo é inovador, mas desconsidera o processo arduamente trilhado e construído.

- O segundo, é o de como fazer com que instâncias de governabilidade regional como Consórcio Intermunicipal e Câmara Regional, busquem ações e soluções para problemas comuns de forma integrada com a imprescindível participação da sociedade civil, com voz, vez e voto, parceria constituída de fato.

- Envolver e compromissar as Universidades locais na discussão e participação efetiva do processo e ação cultural externa, bem como discutir o seu papel dentro e fora delas, nas dinâmicas da cultura.

- Criar mecanismos para novas formas de se fazer política, novas formas de participação, que requerem mudanças da própria cultura política.

- Formação continuada de agentes e gestores de cultura e aqui, damos as boas vindas à disciplina de Gestão de Cultura da UFABC.

- Escuta permanente das experiências e demandas de gestões autônomas da cultura, via de regra, criativas e de fato inovadoras, muitas delas amparadas numa nova cultura digital que acabou por transformar, entre outras coisas, a cultura política.

- Criar Conselhos de Cultura que possuam força, representatividade e competência política.

Finalmente, diante das incertezas políticas deste momento, bem como na incerteza do futuro do atual Ministério da Cultura, curiosamente “recriado” interinamente e, consequentemente, da também incerta manutenção de importantes programas com o Sistema Nacional de Cultura e  Plano Nacional de Cultura, deixo, propositadamente, de colocar como desafio a implantação dos Planos Municipais de Cultura, imprescindíveis, mas incompreensivelmente ainda não assimilados plenamente por muitos dos gestores da cultura locais. Lembro que apenas duas de nossas cidades (SCS e Diadema) já os concluíram, mas que, na prática, estão ignorados. 

Gostaria ainda de sublinhar que a comunidade cultural, que aprendeu a lidar com a perspectiva de frustrações, segue criando, permanentemente discutindo e estudando formas de sustentação das manifestações culturais fora do plano institucional, sem, entretanto, deixar de atuar politicamente através de pressão e cobranças das administrações públicas, no sentido de fazer com que o Estado cumpra seu papel nas obrigações previstas em sua Carta Magna, fazendo valer os preceitos constitucionais, incluindo-se aí o sagrado direito da manifestação popular e de sua escuta atenta.
Muito obrigada.

Ainda que aqui não tenha sido dito, a poesia é uma das minhas principais expressões. Assim, encerro, lendo um poema escrito num 08 de junho, como este, em 2013:


8.06.2013

Percorro a cidade
  (que se quer show
   que se quer palco
    que se quer imagem
   que se quer espetáculo)

à busca de sua jugular
    (ausculto
        a cidade que não se quer
        a cidade que é)
a cidade real.


Ao final do debate, Dalila sugeriu aos presentes que aquele encontro fosse transformado também num ato político, em razão do evidente e preocupante desmonte das políticas públicas, programas e direitos sociais pelo atual governo federal interino. A Universidade, disse, não pode se transformar em “bunker” e ignorar o que está ocorrendo. O debate e o alerta permanente faz-se necessário e imprescindível e o lugar do debate de ideias é, por sua própria natureza, também a Universidade.


quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Cultura Sem Carimbo IV - registro da reunião de setembro / 2014

Dalila Teles Veras
 
O Ciclo Cultura Sem Carimbo, promovido pelo Fórum Permanente de Debates Culturais do Grande ABC convidou para sua reunião do mês de setembro, a artista visual Sueli de Moraes (Suca) para uma agradável conversa acerca da Ocupação Cuiabá, iniciativa por ela idealizada e desenvolvida desde 2004.
 
 
A primeira realização, partiu das ideias debatidas com seus colegas de graduação na Faculdade de Belas Artes. A ideia era mostrar a arte que produziam naquele momento. Assim nasceu a Cuiabá 153 que, como o nome já indicava (trata-se do nome e número da Rua da residência da artista), foi aberta ao público na própria casa da artista, com direito a caldo de abóbora servido aos visitantes.
 Já na segunda Cuiabá 153, as obras foram especialmente desenvolvidas para a Residência e muitas delas ali mesmo produzidas. Os artistas convidados ocuparam todas as dependências térreas do sobrado (sala de estar, cozinha, banheiro, área de serviço e quintal (a família restou a privacidade do andar de cima - os quartos). Por um dia inteiro, a casa transformada em galeria recebeu visitantes e desenvolveu atividades artísticas como performance, números musicais, serviu acepipes e promoveu palestras sobre cultura e arte.
 
 
 
A mais recente, realizada neste ano de 2014, teve como proposta fazer arte pensando também na rua (Uma pequena rua sem saída) envolvendo também outros moradores. A ideia nasceu da vivência de uma de suas filhas que estudava na França e participou de uma "ocupação" denominada "janelas que falam". Daí para o "Portões que falam" foi um passo  e lá foi Sueli a campo para um longo e exaustivo trabalho (um ano) de convencimento dos vizinhos a cederem seus portões aos artistas para interferências. Muita desconfiança a princípio, com algumas resistências que permaneceram. Após a escuta dos moradores, os artistas desenvolveram projetos que dialogaram com a história daquelas casas, daqueles portões.


 
À medida que sua fala avançava, Sueli projetava imagens das ocupações artísticas, com interação entusiasmada dos presentes.
Como nem tudo é sonho, a realidade mostrou uma série de dificuldades como a falta de patrocínios para a produção das obras (o pouco traquejo dos artistas para isso e a falta de gente especializada no assunto em campo), a imprensa local não entendeu a proposta e pouco ou nada divulgou. A dificuldade maior, entretanto, foi "apresentar-se aos próprios vizinhos" : - Mas ela mora aqui? A divulgação corpo-a-corpo, com distribuição de filipetas da própria Suca entre os frequentadores dos parques e praças ao redor.
 
 
Por fim, artistas e moradores envolvidos num trabalho febril, num dia idem, verdadeiro acontecimento cultural. Oficinas para crianças, contação de histórias, apresentações teatrais, musicais, comidinhas, produtos com o logo da mostra, como coleção de "selos" com as obras expostas, camisetas e outros.
Houve de tudo, inclusive, como esperado, tentativas de apropriações indébitas por parte de políticos e gestores públicos em troca de "ajuda"e a natural resistência.
O fascínio da experiência que envolveu dezenas de artistas num trabalho insano de meses, despertou a vontade de expandi-la para outros portões, outras ruas, apropriação da tradição da "cultura da rua", da arte livre de paredes e guardas de plantão.
O depoimento apaixonado comoveu os presentes e a conversa rendeu trocas e muitas ideias. Daqui, ficamos a torcer para que a Suca e seu colegas não desistam e permaneçam na teimosia.
 

Ainda durante a reunião, constaram da pauta
informes gerais:
- Relato da proposta recebida do Secretário de Obras de Santo André, Paulinho Serra sobre a realização de uma "conversa" na Livraria Alpharrabio sobre o posicionamento do caso Sacilotto (Retorno da obra retirada da Oliveira Lima). Pedido negado. Optou-se por sugerir ao secretário que simplesmente cumpra o prometido na reunião pública do ano passado ou convoque uma audiência pública em equipamento idem.

 
-  Revelando SP - Morro do Querosene, 18ª edição (convite de Neusa Borges)

- Notícia da transformação do Grupo Folclórico Congada do Parque São Bernardo (Ditinho)

 

Fala do convidado Sérgio de Azevedo (prof. da Fundação das Artes de São Caetano do Sul  e FAAP) que veio nos dar notícias de sua atuação como tutor de um projeto da Universidade Federal da Bahia que orientará a elaboração de Planos Municipais de Cultura pelo Brasil e de um caso que acompanhou, ou seja, o relato do município de Três Corações-MG, cidade onde a prefeitura se negava a dar andamento à construção de políticas públicas para a área da cultura e uma ONG se organizou e mobilizou a sociedade civil e artistas para elaborar um bem sucedido projeto de lei de iniciativa popular. Fizeram uma consulta jurídica para o MInC, que informou ser legítima a iniciativa. A ideia poderia ser aplicada em Santo André, caso a Prefeitura continue ignorando a possibilidade da implantação de um Plano Municipal de Cultura, uma vez que temos já, reconhecida pelo MINC, uma Conferência Livre de Cultura. 

sexta-feira, 27 de junho de 2014

II rodada do Ciclo Cultura sem Carimbo
03 de julho (quinta-feira) de 2014 - 19 horas


Em função das dificuldades na locomoção em dias de jogo da Copa, comunicamos que a reunião do Fórum deste mês, com a II rodada do Ciclo Cultura sem Carimbo, foi adiada para o próximo dia 03.07.2014, quinta-feira, às 19h00.
O Ciclo "Cultura sem Carimbo" organizado de forma a ouvir, debater e divulgar coletivos, iniciativas e acontecimentos culturais que estão ocorrendo na região, de forma autônoma, sem vínculos ou patrocínios oficiais, iniado no mês passado com a discussão sobre a "Batalha da Matrix - Parada Musical", de SBC, prossegue neste mês, com depoimentos de representantes da Cia. do Nó (Santo André) e Universo Cultural da Mathilde (SCS).
 

Contamos com sua sempre bem vinda presença e, se possível, com a ajuda na divulgação.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Cultura sem Carimbo











Caros (as) amigos (as),
Na próxima segunda-feira, conforme decidido em nossa reunião do mês de abril, bem como na reunião extraordinária da semana passada, daremos início ao Ciclo "Cultura sem Carimbo" que pretende ouvir, debater e divulgar coletivos, iniciativas e acontecimentos culturais que estão ocorrendo na região, de forma autônoma, sem vínculos ou patrocínios oficiais.
Iniciando o Ciclo, ouviremos os B-Boy Dudu e Murilo e o Rodrigo Vital Coraggio, frequentadores assíduos da "Batalha da Matrix - Parada Musical", que há um ano (comemoraram nesta semana a 54ª edição) reúne semanalmente (terças-feiras) centenas de pessoas (jovens, na sua maioria) na Praça da Matriz em SBC, sob a bandeira do hip hop, "organizada de forma horizontal, sem nenhum coletivo à frente." Nota: essa "batalha" refere-se à "batalha de rimas" ali travada, uma espécie de "embolada" ou "desafio".  
O Ciclo será gravado em vídeo para posterior divulgação e disponibilização aos interessados. 
Contamos com sua sempre bem vinda presença e, se possível, com a ajuda na divulgação.
Data26.05.2014, segunda-feira
Horário: das 19h00 às 21h00
Local: Alpharrabio Livraria e editora
Rua Eduardo Monteiro, 151 - Jardim Bela Vista (travessa Av. Portugal, altura nº 1000) Santo André, SP fone 4438-4358

Dalila Teles Veras
Coordenadora
Fórum Permanente de Debates Culturais do Grande ABC

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Milton Santos Jr. – Um filme e uma conversa

Dalila Teles Veras

Milton Santos Jr., o cineasta da Vila São Pedro, membro do Fórum Permanente de Debates Culturais, já é velho conhecido do Alpharrabio, onde já foram exibidos alguns de seus filmes, como O Cabrabode e Vila São Pedro.

Desta feita, numa promoção conjunta entre Alpharrabio e Fórum, aqui retornou para falar de seu mais recente filme, A Testemunha, que vem de uma curta mas já bem sucedida carreira, colecionando êxitos como a exibição no Cinema de Bordas do Itau Cultural. Neste novo filme, Milton confessa que, diferentemente dos anteriores, ousa mais na experimentação e narra uma história de forma não linear, “ousando nos cortes”.


O público que permaneceu para o bate-papo, concordou.

Dono de inegável talento para a narrativa oral, próprio de sua gente (Jacaré, Bahia), na conversa com o público, Milton falou de como iniciou a filmar, influenciado, vejam só, pelo circo, contando passagens muitas vezes hilariantes que muito dizem de sua criatividade e capacidade de improvisar.
Milton envolve a comunidade que, no seu próprio dizer “me aceita bem porque sou eles, faço algo que eles também se reconhecem e que poderiam fazer”.

Alex Moletta, presente ao debate, pontuou que Milton trabalha com outra lógica do cinema tradicional, ou seja, ao invés de excluir ele inclui todo mundo.


Saiba mais sobre Milton Santos Jr.:
http://globotv.globo.com/canal-brasil/cinema-de-bordas/v/o-cineasta-milton-santos-jr-revela-que-descobriu-o-cinema-atraves-do-circo/2901966/
http://www.abcdmaior.com.br/noticia_exibir.php?noticia=43115 

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Como fazer a “virada da cultura” em 2013?


Marcelo Dino Fraccaro 


Chegamos ao fim de mais um período de eleições municipais. Mais uma vez se renova a esperança de que promessas e propostas de campanha se transformem em projetos e políticas de interesse público e para o bem estar geral. Sabemos, porém, que isso não acontece assim. À parte manifestações de falsa ingenuidade, temos consciência de que os gestores e representantes eleitos não agem espontaneamente quando o que está em jogo é o interesse público. Precisam ser “estimulados”. De que forma? Ora, tais projetos e políticas são apresentados, votados e implementados, ou não, considerando-se os ganhos e os riscos políticos que venham acarretar.
Em nosso modelo de democracia representativa, pautado pelo marketing político e eleitoral, tais projetos só se concretizam se os atores políticos envolvidos identificarem vantagens comparativas medidas a partir de conjuntos de interesses e “arranjos” costurados entre seus pares, assim como da avaliação de seus mandatos e de pesquisas de intenção de voto em período eleitoral. Ainda é frágil e incipiente em nossa cultura política a participação da sociedade na construção e acompanhamento dessas políticas com interlocução direta e continuada com os mandatos eletivos.
Trataremos aqui de um setor específico dessas demandas, o setor cultural. Ainda está em estágio inicial a mobilização dos grupos sociais ligados a cultura na construção de políticas para o setor. A segunda Conferência Nacional de Cultura (II CNC) ocorrida em 2010 pode ser considerada um marco na mudança de rumos para uma maior participação. Os sete municípios que compõem o Grande ABC tiveram papel destacado na apresentação de projetos e diretrizes para a região. Além das conferências municipais que cada um dos sete municípios realizou – Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra realizaram conjuntamente uma conferência intermunicipal – realizou-se também uma conferência intermunicipal promovida pelo GT de Cultura do Consórcio do Grande ABC.
Dos resultados deste processo em especial, podemos destacar a proposta da realização de um censo cultural com o objetivo de realizar um “mapeamento” de todas as manifestações, artistas, produtores, público em geral e assim obter um melhor conhecimento da riqueza da cultura da região. Tal objetivo, inclusive previsto em um futuro plano regional de cultura, se constituiria como instrumento fundamental para a elaboração de projetos e políticas de cultura no Grande ABC.
Quase três anos se passaram. O projeto do censo cultural continua a fazer parte dos arquivos do Consórcio Intermunicipal. Por que não avançou? Bem, faltou o “estímulo” como dissemos anteriormente, faltou “vontade política”. As reuniões do GT de Cultura outrora enriquecidas pela participação de setores de interesse da sociedade civil da região, e que embora ainda contemple a presença de poucos representantes desses grupos em algumas reuniões, restringe-se hoje à composição e deliberação de representantes das administrações municipais.
O principal projeto tocado pelo GT de Cultura atualmente é fazer acontecer o projeto “Virada Cultural” na região. Embora esse evento anual tenha a capacidade de reunir um público bastante representativo em “eventos espetáculo” com nomes e grupos artísticos mais ou menos consagrados, realiza-se em um intervalo de 24 horas e consome uma parcela considerável de recursos. O modelo hoje é “importado” do Governo do Estado e bem aceito por inúmeras prefeituras municipais. O problema é que parte da idéia de cultura como entretenimento, prioriza o “espetáculo de massa”, consome recursos que poderiam ser investidos em outros projetos e não leva em consideração atividades e programas culturais que já acontecem nas cidades com a iniciativa de grupos locais. Também é de fácil implementação, é um modelo pronto, formatado, não requer grandes esforços da administração pública municipal.
Por outro lado, o projeto engavetado do censo prevê exatamente o contrário disso. Pretende conhecer na totalidade e em profundidade as manifestações locais, de cada município, e as regionais. Como nasceram, como estão organizadas, com que recursos se mantêm. Não prevê acabar com a Virada Cultural, com os espetáculos, ao contrário disso. Mas quer avançar, quer ir além. Deseja fazer a “virada da cultura” na região. Transformá-la de coadjuvante em protagonista. Quer valorizar aquilo que é característico de nossa identidade cultural e propor ações que possam, como na visão de Célio Turino criador dos Pontos de Cultura, “desesconder” o que está oculto, valorizar os que estão no “andar de baixo”, os que não tem acesso a recursos e políticas que garantam sua participação, mas que representam, de fato, toda a riqueza de nossa tradição cultural.
 Quiçá 2013 e os ventos da mudança que irão arejar as novas administrações municipais promovam as condições para que projetos construídos coletivamente, a exemplo do censo cultural, possam se transformar em políticas para a sociedade na região.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Cada um de nós é corintiano a sua maneira! (Reynaldo Damazio)

Carlos Lotto

Esta e outras maravilhosas frases serviram para celebrar os 30 anos do  primeiro livro da escritora Dalila Teles Veras, numa surpresa da sua equipe literária/afetiva na Livraria Alpharrabio, que preparou as escondidas seu ultimo livro, também lançado na data de 30/6/2012.

Entre os amigos da região e de outros lugares o poeta Carlos Felipe Moyses, do alto dos seus recentes 70 anos, nos fez refletir que é a obra que dá nacionalidade ao poeta, transcendendo assim a origem da escritora, que é da Ilha da Madeira. Poeta do não lugar, além das memórias e do cotidiano, Dalila traz pra perto de si todas as linguagens, submergindo-as em suas palavras desterradas. Quais artistas e militantes da cultura não passaram pela sua casa nestes anos todos?

A extensa obra da ”aniversariante” emocionada, lida dos poemas iniciais aos mais recentes pelos escritores presentes, simbolizou a louvação à palavra do além mar, concentrada em suas tábuas de jangada, armada ferozmente para espantar e excluir os tubarões dentados das verdades absolutas, função maior do poeta.

Também para homenageá-la cito aqui frases de jovens detentos do CDP Diadema, em sua maioria traficantes e ladrões, que uma tarde por semana discutem o que é a poesia e para que serve, no cubículo escuro onde estão presos:

“A poesia é uma forma de refletir o meu amor, de forma mais jeitosa e legal, com segurança. Assim posso adquirir conhecimento para melhorar o meu dia, melhorar a auto-estima e assim caminhar para um futuro melhor. Com a poesia tenho ainda um momento educativo e romântico”. Claudio

“Vivo a vida rotineira, mas que rotina é a vida?
Palpitar de emoções com coração verdadeiro
Apesar das transgressões.
Já vivi tantas poesias e outras tantas traições
Já bati, já apanhei, e foram muitas razões
Esta é a minha poesia que atravessa gerações”. Jodedson

“Poesia é o sereno da madrugada caindo no meu jardim”. Alcindo

“Poesia é poder interpretar a vida de várias maneiras, através de um verso, de uma musica, uma historia, etc. A poesia pode ser encontrada em muitos lugares, mas principalmente nas saudades que se tem de alguém, ou na falta que sentimos de alguma coisa”. Genilson

“A poesia, por incrível que pareça, faz o coração da gente ir para um mundo repleto de aventuras e clarezas. Faz a gente refletir e até mesmo agir melhor. Quem ouve uma poesia pode guardá-la para o seu dia a dia. Traz mais conduta com as palavras, faz saber entender o próximo para a gente se expressar. A poesia nos faz sonhar em ter as palavras das conquistas do poeta e a vontade de cultivar e exercer a palavra do escritor. Lembro sempre um poema que traz a minha amada de volta”. Marcilio

“Através da poesia reflito sobre toda a minha vida e vou até onde fluem meus pensamentos mais profundos”. Luciano

“Poesia é uma junção de rimas, palavras e frases onde viajo  no meu autoconhecimento”. Daniel
 
“A poesia expressa a natureza”. Daniel V.

“A poesia serve para o poeta se expressar e fazer o leitor interpretá-lo como um espelho de suas sensações, às vezes tristes, às vezes eufóricas”. Felipe

“Poesia é a arte de expressar o coração para o próximo, através da harmonia das  palavras. É um jeito de amar o próximo como a si mesmo”.  Ricardo

“Poesia é o jeito de se descobrir através das palavras e ampliar o conhecimento”. Felipe

“A poesia expressa aquilo que está no íntimo. Ela consegue dizer de um jeito diferente as coisas que acontecem todos os dias. Poesia é a palavra excelente que fala com você”. Jessé

“Poesia é quando dois corações trabalham juntos”. Diego

“A poesia coloca no verbo os sentimentos que estão escondidos no coração”. Alexandre

“Poesia são as idéias que nos inspiram e nos fazem imaginar além do possível”. Vinicius

“Poesia é a felicidade que cada palavra traz”. Thales

“Poesia é algo que tem significado, mas que precisa de paciência pra se entender. E isso é muito lindo”. João Antonio

Estas definições espontâneas de jovens que estão se apropriando da palavra, poderiam se aplicar a Dalila e a outros poetas também. Mas é somente ela que se mantém próxima através das portas abertas do seu Alpharrabio, onde me reconheci entre aqueles que vagam a procura mais de ouvidos e de mãos que de lugares de descanso.

Então obrigado Dalila por nos lembrar que a poesia brasileira é a filha (e)terna da nau portuguesa; obrigado por nos lembrar que, assim como o olhar do poeta, seremos sempre o estrangeiro na murada do barco ou na janela dos dias; e obrigado por aniquilar o nosso orgulho nos mostrando que justamente aqueles que fazem ver são os permanentemente excluídos da mesa dos satisfeitos.

A partir desta data vou refletir sobre o meu lado renegado, mórbido e obstinado de corintiano(argh!),  mas assim como qualquer produtor cultural do ABC nos últimos 30 anos, jamais poderei negar  a minha porção  transportuguesa  de Dalila Teles Veras. Evoé Madeira! Evoé Piauí! Evoé ABC!

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Eles merecem os louros


Simone Massenzi Savordelli

     Mais uma vez dou meus aplausos a eles que viveram tanto, tudo, tão intensamente e que com tanta simplicidade e com tanta polidez nos contam suas histórias.

     Desta vez a homenagem pelos 80 anos de vida foi para Alexandre Takara, na livraria Alpharrabio, no último dia 18 de abril.
      Inicio pelo fim para tentar expressar a admiração que eles merecem.
     Nas palavras do homenageado: “com 80 anos, mas um garotão”. Palavras ditas entre um olhar brilhante de menino entusiasmado com a presença de pessoas queridas e um sorriso travesso do “ainda garotão”.
     A percepção da vida depende do sentimento e dos valores a ela atribuídos e agregados no curso de uma existência digna, com muita luta e de muita superação.
     Mais uma vez diante de pessoas que tudo viram; que tudo viveram; que fizeram parte e participaram de momentos históricos e contextos sociais que jamais voltarão e por seus olhares nos transmitem com maestria suas experiências, sinto o valor de poder ouvi-los.
     São pessoas que fazem a “mais negra miséria” parecer uma fantasia, parecer apenas um gancho para a vitória e para a conquista.
      A conquista intelectual de uma criança que até os oito anos de idade não conheceu a língua portuguesa e que com o passar dos anos se dedicou a uma vida de superação que a fez um adulto de trajetória intelectual impecável.
     Nós temos o privilégio muito grande de nos apropriarmos das experiências destas pessoas que tão grandiosamente nos ensinam, nos contam suas histórias e nos sorriem com alegria.
      Essa também é uma forma de preservação da memória. O contar as histórias da vida permite a continuidade dela mesma, a evolução social, o aprendizado e o aproveitamento por parte daqueles que estão atentos e que se encantam com a oportunidade.
      O passar dos anos faz o futuro ficar mais acessível e mais fácil para nós que chegamos depois e jamais iremos superar tantas transformações sociais.
     Estes seres que chegaram até a nossa época com tanta disposição e com uma vida produtiva, de qualidade, e ainda na ativa nos mostram o quão importante é a capacidade de aceitação, de adaptação e de criatividade para prosseguir.
     Os momentos histórico-sociais contados por pessoas que os vivenciaram se tornam de maior valor e mais tangíveis. Tornam-se reais. Tornam-se parte de nossas vidas pela sua proximidade.
     Eles merecem os louros por terem sido verdadeiros guerreiros dentro de muitas batalhas silenciosas e que são transmitidas com tanta leveza que até parece que nunca houve tristeza ou sofrimento.
     E essa é a grande lição: fazer de tudo um bom momento para aprender e transmitir a realidade de forma que seja positiva e proveitosa para, assim, as futuras gerações manter a memória da história da vida cotidiana e social e nela galgar degraus de evolução social e intelectual.
     É impossível conter a admiração e é impossível deixar de me apropriar destes ensinamentos de vida para pensar em fazer adiante com o vigor de um garotão, passe o tempo que passar.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Campanhas sucessórias e políticas públicas da cultura

dalila teles veras

Em conversa recente com uma amiga, com quem há anos compartilho ideias e militância cultural, confessamos uma à outra o nosso desânimo diante da tabula rasa em que, via de regra, os governos  metem as questões da cultura.
A esperança na possibilidade de mudanças diminui quando se ouve novos e velhos postulantes a cargos eletivos abordarem o tema. É verdadeiramente preocupante ver como  "atividades e grandes eventos" ainda pautam as (inexistentes) políticas públicas da cultura. Panorama de terra arrasada mesmo, disfarçada em espetáculo pirotécnico e conteúdo (muito) duvidoso.
Dói (e ao mesmo tempo chega a ser patético) receber assédio diário de gente que sempre nos ignorou e que agora quer colar à sua estampa um verniz de secagem rápida, mas "visível". O verniz da cultura (ou o que para eles representa cultura).
Neste sombrio panorama, todos aqueles que passaram a vida lendo, discutindo, propondo, praticando e refletindo sobre o assunto, tendem ao desânimo diante da correlação de forças, ou seja, levar em conta a realização de um projeto sólido de construção, calcado em longo e firme processo versus a simplificação reles da política de balcão e espetáculo. Joga-se no lixo a massa crítica acumulada no estudo, na discussão e na prática, posto que as pessoas comprometidas com esse processo jamais são ouvidas e levadas em conta, e, no lugar, coloca-se a mediocridade que visa apenas ao que chamam de "visibilidade" para a gestão, de acordo com a conveniência política do momento.
Distribuiu panfleto na campanha eleitoral do Prefeito? Cantou no palanque dos comícios? Pronto, candidato virtual a um cargo ou, quem sabe, a uma diretoria ou secretaria. Em que área? Ora, na cultura, que é o setor onde tradicionalmente se mete todo aquele que precisa de uma "recompensa" pelos "relevantes trabalhos prestados à campanha", mas que, a bem dizer, não se sabe bem o que faz e nem onde pode ser metido. Depois, esses senhores(as), como já ouvi de titulares de pastas da Cultura, se arvoram em "doadores de cultura para o povo".
Antes que comecem suas respectivas gestões, deveriam ser informados por alguém bem intencionado, que o Estado não pode e nem deve ser mero distribuidor de verbas através do despacho de recursos e tampouco exercer o papel de Caio Mecenas (70 a.C.8 a.C.), o Ministro de Otávio Augusto, que distribuía favores em troca de fidelidade ideológica. O papel do Estado também não é propriamente o de gestor, com o nosso já velho conhecido dirigismo estatal e catequese partidária, disfarçados em política de cultura. O Estado tampouco é produtor cultural, é bom que se lhe diga. Deve, isto sim, ser um facilitador  e multiplicador de condições para que a prática cultural seja ampla e descentralizada, fugindo do paternalismo e do toma-lá-dá-cá.
Assim como o Estado não deve arcar com toda a responsabilidade das questões culturais, a iniciativa privada  também não pode ser vista como a saída para todas as soluções.
Ao longo de toda sua história, o Brasil raramente mostrou competência na administração das questões culturais, oscilando entre práticas como o dirigismo ou paternalismo,  ora em desastrosas trocas e favorecimentos. Entretanto, é preciso admitir que avanços e ousadias nas políticas públicas da cultura foram implantados no governo Lula com ampla participação e adesão da sociedade civil em todo o território nacional (vide Plano Nacional de Cultura, Plano Nacional do Livro e da Leitura, Pontos de Cultura, etc.), mas que, lamentável e inexplicavelmente, neste governo Dilma perderam força, patinam ou, por questões políticas e opções pessoais da atual Ministra, não apresentam as soluções de continuidade (ou, se for o caso, de revisão) esperadas. Nem por isso deixaram de ser importantes. Por se tratar de programas que garantem continuidade de políticas públicas, independentemente dos partidos que venham a assumir os governos futuros, devem continuar a merecer o apoio da sociedade.
No plano local,  é hora de estabelecermos, de forma legitima, eficaz e permanente, relações e diálogo entre sociedade civil e governo, fazendo valer demandas, metas e massa crítica acumuladas pela comunidade cultural, como é o caso das Conferências de Cultura realizadas em toda a região, incentivando sua continuação, revendo e ampliando seu conteúdo. Conselhos de Cultura legitimamente constituídos, atuantes e representativos devem, sim, ser estimulados pelo governo local. É hora de exigir políticas públicas que vão além do mero discurso de intenções.
Isso dá muito trabalho, como sabem todos aqueles que deixam seus afazeres cotidianos para doar boa parte de seu tempo à "militância" cidadã, participando voluntariamente de debates, Conselhos, Conferências, Seminários, Fóruns, Associações de Amigos de Bairro, etc. Entretanto,  pergunto-me se desconfiarão desses caminhos e estarão dispostos à doação e ao sacrifício os meros perseguidores de poder, oportunistas de plantão que fazem da política trampolim para seus projetos pessoais e sonhos de glória? É o que precisaremos verificar neste ano eleitoral, em especial, levantando e conferindo a "vida pregressa" dos candidatos e seu envolvimento histórico com essas questões.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Notícia da reunião do Fórum Permanente de Debates Culturais no dia 26.03.2012

 
Da pauta da reunião mensal do Fórum Permanente de Debates Culturais do Grande ABC realizada no dia 31 de março último, na Livraria Alpharrabio, em Santo André, constaram os seguintes assuntos:

1) Relato, por Simone Zárate e Dalila Teles Veras, sobre a participação na primeira reunião do ano do GT Cultura junto ao Consórcio:

Após recebermos no ano passado por parte dos atuais dirigentes do Consórcio intermunicipal do ABC, sinalização para que a sociedade civil voltasse a participar do GT Cultura daquela entidade, solicitamos à coordenadora do GT, Ana Paula Bernardes que, por sua vez, consultou os demais integrantes, a inclusão de representantes do Fórum Permanente de Debates Culturais na reunião de março (a primeira do ano), tendo a coordenadora nos comunicado que "por votação da maioria dos municípios que compõem o GT de Cultura, a presença da Sociedade é bem vinda em nossas reuniões mensais."

Recebemos nova mensagem que especificava as normas para a nossa participação(sic):

"Discutimos a presença da Sociedade Civil em nossa reunião e ficou da seguinte forma:
- a sociedade civil participará: “reunião sim, reunião não” referente as reuniões mensais ordinárias, ou seja, de dois em dois meses;
- nas reuniões em que a sociedade civil estiver participando, será cedido um prazo de 30 minutos para exposição de idéias, propostas, sugestões e críticas, após explanação por parte da Sociedade Civil, o GT de Cultura continuará a reunião sem a presença da Sociedade Civil para deliberações.
- Estamos com a listagem de integrantes da Sociedade Civil, solicitamos que duas semanas anteriores as reuniões, na qual, a sociedade civil participará, aguardaremos o envio dos nomes de 2 (dois) representantes que irão participar da reunião e a pauta que será abordada para que o Consórcio possa elaborar o Convite já mencionando as pautas que serão deliberadas em reunião.
Nos reunimos sempre na primeira semana de cada mês, quase sempre às quartas-feiras, determinamos que a 1ª reunião de 2012, ocorrerá em 08/02/12(devido ao Carnaval, ela poderá ser cancelada); Caso seja agendada alguma reunião em janeiro terá caráter extraordinário, devido nossas negociações com o Governo para viabilização da 1ª Virada Cultural Regional.
Sendo assim, se a 1ª reunião Ordinária realmente ocorrer em fevereiro, na 1ª semana de março já teremos nossa 1ª reunião com a presença da Sociedade Civil. As demais entidades que vierem procurar os integrantes do Consórcio para solicitar participação, iremos encaminhar para que procurem vocês e assim vcs possam organizar a presença da sociedade civil nas futuras reuniões.
Faremos nos próximos dias uma campanha individual de cada município para divulgar entre os artistas da cidade as inscrições para a Virada de 2012. No Grande ABC ela acontecerá de forma simultânea entre os 7 municípios e gostaríamos muito de contratar artistas de nossa região para cada tema que será abordado pelos municípios.
Faltam alguns detalhes, mas é quase 99% de chance de em 2012 a Virada Paulista acontecerá em um formato inédito regional.
Contamos com vcs para divulgação entre os artistas da região.
Desde já agradecemos, nos colocamos a disposição para qq esclarecimento.

Como o Fórum de há muito discute e tem se posicionado contra as políticas culturais calcadas puramente em "eventos", que não mudam fundamentalmente nada, ato contínuo, indicamos, em reunião, os representes do Fórum Permanente de Debates Culturais junto ao GT Cultura, Simone Zárate; Marcelo Dino Fraccaro; Simone Massenzi; Benedito da Silva Lemes (Ditinho da Congada), Júlio Mendonça e Dalila Teles Veras e, a seguir, enviamos a nossa pauta para a primeira reunião do GT ocorrida em março, ou seja, questionamento dos representantes do 7 municípios sobre a atual situação do Sistema Nacional de Cultura e Plano Nacional de Cultura.
Os representantes do Rio Grande da Serra e Mauá declararam que não possuem Secretaria de Cultura independente e isso é um impedimento para a adesão. O representante de Santo André confessou desconhecer o assunto; os representantes de Diadema e São Caetano estão em processo de adesão. São Bernardo e Ribeirão Pires não enviaram nenhum representante. Encaminhamento: Realizar um seminário, no mês de junho, de caráter didático para esclarecimento das etapas necessárias para adesão ao Sistema Nacional de Cultura.

Ainda sobre nossa representatividade junto a Instituições, também foi comunicado aos presentes sobre a eleição do Conselho Consultivo na instância Metropolitana, que está sendo criado, para o qual foi indicado um membro do Fórum, Marcelo Dino Fraccaro que, ausentado da região por motivos de trabalho, justificou a ausência à reunião.

Os presentes também manifestam sua preocupação em relação à atual falta de continuidade adequada no MINC em iniciativas ousadas do Governo Lula, como o SNC, motivo pelo qual se empenharão nesse debate junto ao Consórcio Intermunicipal do ABC.

2) O segundo item da reunião foi no sentido de levantar formas e discutir parcerias para Discussão do programa Cultural dos Candidatos às Prefeituras; Uma das possibilidades levantadas seria a parceria com instituições superiores de ensino.  O Fórum compromete-se a buscar grupos na comunidade que estejam preocupados

3) O terceiro momento da reunião foi dedicado à fala de Leonardo Campos, candidato à vereança de Santo André, que previamente solicitou permissão, tendo sido acatada. Campos comunicou que o foto de sua candidatura será: a economia solidária, a cultura; a educação e Juventude. Trouxe um documento com propostas do Grupo EPOLCAM para a Cultura em Santo André que foi discutidos com os presentes..

a partir desta visita do Sr. Leonardo Campos, o Fórum Permanente de Debates Culturais do Grande ABC abrirá espaço em suas reuniões mensais para receber candidados às eleições municipais deste ano que desejem trazer propostas para serem discutidas, desde que previamente agendadas.
Assinaram a lista de presença: Dalila Teles Veras, Simone Massenzi Savordelli, Ditinho da Congada, Valdecirio Teles Veras, Simone Zárate, Neusa Borges, José Milton dos Santos, Hildebrando Pafundi, Leonardo J. D. Campos, George Franklin Figueiredo, Jerônimo de Almeida Neto, Emerson Honorato de Oliveira, Júlio Cesar Mendonça, Denis Pinto, Antonio Possidonio Sampaio, Celso Horta, Josefa Barranova, Luzia Teles Veras, Neri Silva Silvestre.

Redigiu e assina esta ata, Dalila Teles Veras, coordenadora do Fórum Permanente de Debates Culturais