Dalila Teles Veras
O Ciclo Cultura Sem Carimbo, promovido pelo Fórum Permanente
de Debates Culturais do Grande ABC convidou para sua reunião do mês de
setembro, a artista visual Sueli de Moraes (Suca) para uma agradável conversa
acerca da Ocupação Cuiabá, iniciativa por ela idealizada e desenvolvida desde
2004.
A primeira realização, partiu das ideias debatidas com seus
colegas de graduação na Faculdade de Belas Artes. A ideia era mostrar a arte
que produziam naquele momento. Assim nasceu a Cuiabá 153 que, como o nome já
indicava (trata-se do nome e número da Rua da residência da artista), foi
aberta ao público na própria casa da artista, com direito a caldo de abóbora
servido aos visitantes.
Já na segunda Cuiabá
153, as obras foram especialmente desenvolvidas para a Residência e muitas
delas ali mesmo produzidas. Os artistas convidados ocuparam todas as
dependências térreas do sobrado (sala de estar, cozinha, banheiro, área de
serviço e quintal (a família restou a privacidade do andar de cima - os
quartos). Por um dia inteiro, a casa transformada em galeria recebeu visitantes
e desenvolveu atividades artísticas como performance, números musicais, serviu
acepipes e promoveu palestras sobre cultura e arte.
A mais recente, realizada neste ano de 2014, teve como
proposta fazer arte pensando também na rua (Uma pequena rua sem saída)
envolvendo também outros moradores. A ideia nasceu da vivência de uma de suas
filhas que estudava na França e participou de uma "ocupação"
denominada "janelas que falam". Daí para o "Portões que
falam" foi um passo e lá foi Sueli
a campo para um longo e exaustivo trabalho (um ano) de convencimento dos
vizinhos a cederem seus portões aos artistas para interferências. Muita desconfiança
a princípio, com algumas resistências que permaneceram. Após a escuta dos
moradores, os artistas desenvolveram projetos que dialogaram com a história
daquelas casas, daqueles portões.
À medida que sua fala avançava, Sueli projetava imagens das
ocupações artísticas, com interação entusiasmada dos presentes.
Como nem tudo é sonho, a realidade mostrou uma série de
dificuldades como a falta de patrocínios para a produção das obras (o pouco
traquejo dos artistas para isso e a falta de gente especializada no assunto em
campo), a imprensa local não entendeu a proposta e pouco ou nada divulgou. A
dificuldade maior, entretanto, foi "apresentar-se aos próprios
vizinhos" : - Mas ela mora aqui? A divulgação corpo-a-corpo, com
distribuição de filipetas da própria Suca entre os frequentadores dos parques e
praças ao redor.
Por fim, artistas e moradores envolvidos num trabalho
febril, num dia idem, verdadeiro acontecimento cultural. Oficinas para
crianças, contação de histórias, apresentações teatrais, musicais, comidinhas,
produtos com o logo da mostra, como coleção de "selos" com as obras
expostas, camisetas e outros.
Houve de tudo, inclusive, como esperado, tentativas de
apropriações indébitas por parte de políticos e gestores públicos em troca de
"ajuda"e a natural resistência.
O fascínio da experiência que envolveu dezenas de artistas
num trabalho insano de meses, despertou a vontade de expandi-la para outros
portões, outras ruas, apropriação da tradição da "cultura da rua", da
arte livre de paredes e guardas de plantão.
O depoimento apaixonado comoveu os presentes e a conversa
rendeu trocas e muitas ideias. Daqui, ficamos a torcer para que a Suca e seu
colegas não desistam e permaneçam na teimosia.
Ainda durante a reunião, constaram da pauta
informes gerais:
- Relato da proposta recebida do Secretário de Obras de
Santo André, Paulinho Serra sobre a realização de uma "conversa" na
Livraria Alpharrabio sobre o posicionamento do caso Sacilotto (Retorno da obra
retirada da Oliveira Lima). Pedido negado. Optou-se por sugerir ao secretário
que simplesmente cumpra o prometido na reunião pública do ano passado ou
convoque uma audiência pública em equipamento idem.
- Revelando SP -
Morro do Querosene, 18ª edição (convite de Neusa Borges)
- Notícia da transformação do Grupo Folclórico Congada do
Parque São Bernardo (Ditinho)
Fala do convidado Sérgio de Azevedo (prof. da Fundação das
Artes de São Caetano do Sul e FAAP) que
veio nos dar notícias de sua atuação como tutor de um projeto da Universidade
Federal da Bahia que orientará a elaboração de Planos Municipais de Cultura
pelo Brasil e de um caso que acompanhou, ou seja, o relato do município de Três
Corações-MG, cidade onde a prefeitura se negava a dar andamento à construção de
políticas públicas para a área da cultura e uma ONG se organizou e mobilizou a
sociedade civil e artistas para elaborar um bem sucedido projeto de lei de
iniciativa popular. Fizeram uma consulta jurídica para o MInC, que informou ser
legítima a iniciativa. A ideia poderia ser aplicada em Santo André, caso a
Prefeitura continue ignorando a possibilidade da implantação de um Plano
Municipal de Cultura, uma vez que temos já, reconhecida pelo MINC, uma
Conferência Livre de Cultura.
também considero um acontecimento social
ResponderExcluirde deve sempre se repetir!