Carlos Lotto
Esta e outras maravilhosas frases serviram para celebrar os 30 anos do primeiro livro da escritora Dalila Teles Veras, numa surpresa da sua equipe literária/afetiva na Livraria Alpharrabio, que preparou as escondidas seu ultimo livro, também lançado na data de 30/6/2012.
Entre os amigos da região e de outros lugares o poeta Carlos Felipe Moyses, do alto dos seus recentes 70 anos, nos fez refletir que é a obra que dá nacionalidade ao poeta, transcendendo assim a origem da escritora, que é da Ilha da Madeira. Poeta do não lugar, além das memórias e do cotidiano, Dalila traz pra perto de si todas as linguagens, submergindo-as em suas palavras desterradas. Quais artistas e militantes da cultura não passaram pela sua casa nestes anos todos?
A extensa obra da ”aniversariante” emocionada, lida dos poemas iniciais aos mais recentes pelos escritores presentes, simbolizou a louvação à palavra do além mar, concentrada em suas tábuas de jangada, armada ferozmente para espantar e excluir os tubarões dentados das verdades absolutas, função maior do poeta.
Também para homenageá-la cito aqui frases de jovens detentos do CDP Diadema, em sua maioria traficantes e ladrões, que uma tarde por semana discutem o que é a poesia e para que serve, no cubículo escuro onde estão presos:
“A poesia é uma forma de refletir o meu amor, de forma mais jeitosa e legal, com segurança. Assim posso adquirir conhecimento para melhorar o meu dia, melhorar a auto-estima e assim caminhar para um futuro melhor. Com a poesia tenho ainda um momento educativo e romântico”. Claudio
“Vivo a vida rotineira, mas que rotina é a vida?
Palpitar de emoções com coração verdadeiro
Apesar das transgressões.
Já vivi tantas poesias e outras tantas traições
Já bati, já apanhei, e foram muitas razões
Esta é a minha poesia que atravessa gerações”. Jodedson
“Poesia é o sereno da madrugada caindo no meu jardim”. Alcindo
“Poesia é poder interpretar a vida de várias maneiras, através de um verso, de uma musica, uma historia, etc. A poesia pode ser encontrada em muitos lugares, mas principalmente nas saudades que se tem de alguém, ou na falta que sentimos de alguma coisa”. Genilson
“A poesia, por incrível que pareça, faz o coração da gente ir para um mundo repleto de aventuras e clarezas. Faz a gente refletir e até mesmo agir melhor. Quem ouve uma poesia pode guardá-la para o seu dia a dia. Traz mais conduta com as palavras, faz saber entender o próximo para a gente se expressar. A poesia nos faz sonhar em ter as palavras das conquistas do poeta e a vontade de cultivar e exercer a palavra do escritor. Lembro sempre um poema que traz a minha amada de volta”. Marcilio
“Através da poesia reflito sobre toda a minha vida e vou até onde fluem meus pensamentos mais profundos”. Luciano
“Poesia é uma junção de rimas, palavras e frases onde viajo no meu autoconhecimento”. Daniel
“A poesia expressa a natureza”. Daniel V.
“A poesia serve para o poeta se expressar e fazer o leitor interpretá-lo como um espelho de suas sensações, às vezes tristes, às vezes eufóricas”. Felipe
“Poesia é a arte de expressar o coração para o próximo, através da harmonia das palavras. É um jeito de amar o próximo como a si mesmo”. Ricardo
“Poesia é o jeito de se descobrir através das palavras e ampliar o conhecimento”. Felipe
“A poesia expressa aquilo que está no íntimo. Ela consegue dizer de um jeito diferente as coisas que acontecem todos os dias. Poesia é a palavra excelente que fala com você”. Jessé
“Poesia é quando dois corações trabalham juntos”. Diego
“A poesia coloca no verbo os sentimentos que estão escondidos no coração”. Alexandre
“Poesia são as idéias que nos inspiram e nos fazem imaginar além do possível”. Vinicius
“Poesia é a felicidade que cada palavra traz”. Thales
“Poesia é algo que tem significado, mas que precisa de paciência pra se entender. E isso é muito lindo”. João Antonio
Estas definições espontâneas de jovens que estão se apropriando da palavra, poderiam se aplicar a Dalila e a outros poetas também. Mas é somente ela que se mantém próxima através das portas abertas do seu Alpharrabio, onde me reconheci entre aqueles que vagam a procura mais de ouvidos e de mãos que de lugares de descanso.
Então obrigado Dalila por nos lembrar que a poesia brasileira é a filha (e)terna da nau portuguesa; obrigado por nos lembrar que, assim como o olhar do poeta, seremos sempre o estrangeiro na murada do barco ou na janela dos dias; e obrigado por aniquilar o nosso orgulho nos mostrando que justamente aqueles que fazem ver são os permanentemente excluídos da mesa dos satisfeitos.
A partir desta data vou refletir sobre o meu lado renegado, mórbido e obstinado de corintiano(argh!), mas assim como qualquer produtor cultural do ABC nos últimos 30 anos, jamais poderei negar a minha porção transportuguesa de Dalila Teles Veras. Evoé Madeira! Evoé Piauí! Evoé ABC!
Um certo dia recebemos um convite para uma "Conversa de Livraria" que aconteceria em determinado sábado pela manhã no Alpharrabio. Até aí, tudo normal. Quando, tempos depois, em uma conversa ao pé de ouvido veio a notícia de que o convite era "falso". O primeiro pensamento foi: será que recebi "vírus"?! Mas não!! O convite era verdadeiro, falso (e por estratégia) era o seu conteúdo. Na verdade Dalila seria a grande homenageada e teria a surpresa de ver lançado o seu livro "Diuturnos" como um belo presente pelos trinta anos de seu primeiro livro "Liçoes de Tempo". Eis que foi uma linda manhã ensolarada! Sem contar os bons sentimentos e bons pensamentos que ocorrem ao ver a surpresa de Dalila! Sem contar a gratidão de poder estar presente naquele momento. E sem contar o quanto agregamos valor ao ouvir tão brilhantes pessoas. Por fim, o destaque foi para a descrição de Dalila como a "estrangeira". Estrangeira não no sentido de sua nacionalidade de nascimento, mas no sentido de sair do lugar e olhá-lo com profundidade e sentí-lo, descrevê-lo como se de fora fosse. Concluo que um artista, de fato, não possui nenhuma nacionalidade. O artista é do mundo. Obrigada à todos os que conspiraram para a surpresa. foi um sucesso! Simone Massenzi.
ResponderExcluirObrigada, Carlos, obrigada, Simone! Meus agradecimentos sinceros a todos(as) que ali estiveram celebrando, sobretudo, a existência afetiva e cúmplice dos pares nas artes e letras. Bem hajam! dalila
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