quarta-feira, 27 de abril de 2016

“Batalha da Matrix – Cultura, Juventude e Direitos Humanos”.



Dalila Teles Veras



A reunião mensal do Fórum Permanente de Debates Culturais do Grande ABC, do mês de fevereiro último, teve como pauta principal a discussão denominada “Batalha da Matrix – Cultura, Juventude e Direitos Humanos”.



Como convidado especial para discorrer sobre o tema, ouvimos o advogado Ariel de Castro Alves coordenador Estadual do Movimento Nacional de Direitos Humanos que esteve muito tempo à Frente da Fundação Criança em SBC, responsável por acionar a Ouvidora Pública do Estado de São Paulo para instalar inquérito no sentido de apurar as irregularidades de uma desastrosa e violenta ação policial (policiais militares e municipais) ocorrida no dia 26 de janeiro deste ano durante a Batalha da Matrix, evento semanal que reúne centenas de jovens para “batalha de rap” na Praça da Matriz em São Bernardo do Campo.







Desde o início daquela atividade, o Fórum vem ouvindo jovens representantes da Batalha da Matrix que relataram a dificuldade de diálogo com a Prefeitura Municipal de São Bernardo do Campo no sentido de encontrar uma solução para essa manifestação de jovens em espaço público.





Como convidados, também contamos com a presença de Marcelo Dino Fraccaro, Diretor do Departamento de Ação Artística e Cultural e Fernando Borgomoni, Diretor do Departamento de bibliotecas Publicas e Preservação da Memória, ambos da Prefeitura Munciipal de SBC.



Antes de passar a palavra ao convidado Ariel de Castro Alves, Dalila Teles Veras informou que foram convidados os jovens Cario César Lopes e Lucas, ambos da Batalha da Matrix, mas que, horas antes da reunião informaram terem sido convidados à última hora para uma reunião no gabinete do Prefeito de SBC, em horário coincidente com o da reunião do Fórum. Essa reunião com o Prefeito havia sido adiada sem data e só hoje foi confirmada à última hora.




Ariel iniciou sua fala discorrendo sobre fenômenos recentes de protagonismo juvenil como a Ocupação das Escolas e o Passe Livre, pautas que foram tomadas pelos segmentos sociais e que ganharam força justamente pelo protagonismo dos jovens. Não é diferente dos que acontece com os jovens da Batalha da Matrix que querem atividades protagonizadas por eles que já demonstraram possuir um protagonismo importante. Disse compreender que o poder público também recebe pressões, mas que no dia 26 de janeiro a PM extrapolou, usando balas de borracha, ação que está proibida desde 2013, sendo que a Corregedoria da PM instaurou inquérito a respeito. Os chamados “rolezinhos” nos Shopping, ocorrências nas quais Ariel entreviu, com o argumento de que “todos são iguais perante a lei”. A Prefeitura de SP fez um trabalho importante que acabou minimizando esses problemas permitindo atividades dos jovens nos estacionamentos.



Ariel: “quando dei os exemplos dos outros movimentos, quis dizer que todos são anárquicos e não personalistas. Eles sempre consultam seus pares. A minha preocupação, como defensor dos Direitos Humanos, é a de que não podemos aceitar que essa função seja alvo de uma intervenção violenta, com gás lacrimogêneo e com a própria Prefeitura assumindo na imprensa ter chamado a tropa de choque que se portou como o Governo Alckimin que tanto combatemos. Já recebi acusações de que defendo bandidos e, na comissão da infância da OAB eu não posso levar estas questões, pois os próprios advogados não concordam com esses movimentos, defendem a posição dos comerciantes locais."







Fernando Borgomoni: “A Batalha foi um sucesso em pouco tempo e se multiplicaram. As obras contras as enchentes no Paço Municipal expulsaram os jovens que foram para a Praça da Matriz. A partir de um depoimento do Secretário de Cultura, a Prefeitura viu-se na obrigação de apoiar o movimento. Isto ficou claro na secretaria de Cultura mas não foi do governo como um todo. Passei a ir para a batalha para observar o que estava acontecendo. Antes de tudo era uma questão social. Temos ali duas frequências diferentes: o público da Batalha, que vão lá com essa finalidade específica, ou seja, a batalha de rimas, do hip hop, que fica na parte de baixo da praça. Na parte de cima, jovens que vão para lá para se reunir, mas sem se interessar propriamente pela batalha. O Pessoal da Batalha tem muito claro que ocupam um espaço público, levam sacos de lixo, apelam para não usarem drogas, para que não usam palavras chulas, sem agressões verbais. Há uma preocupação com a ordem por parte deles. Num determinado momento eles foram ameaçados por traficantes. Lucas, um dos líderes, fez um croqui determinando e reivindicando proteção indicando onde a PM de deveria ficar posicionada. A Batalha não tem como objetivo o confronto com a Sociedade. Juntamos o movimento hip hop organizado, chamamos essas lideranças, mas houve uma certa desconfiança do pessoal da Batalha em relação à geração mais velha do hip hop e não conseguiram conversar.”




A seguir, leu um relatório da Secretaria de Cultura, datado de 2014, no qual havia sugestões de incorporar à Batalha uma série de atividades coordenadas pela Secretaria, como oficinas, e inclusive, “aulas de evangelização” por jovens ligados à Juventude Católica daquela Igreja Matriz, informações que foram alvo de acalorado debate entre os presentes. Perguntado sobre o resultado dessas sugestões, disse que não houve prosseguimento no diálogo, uma vez que os jovens da Batalha querem ser protagonistas e não se submetem aos modos antigos de participação. Até hoje, informou ainda, a Prefeitura, por falta de verba, não conseguiu atender as reivindicações de apoio, como instalar banheiros químicos.





Já Marcelo Dino Fraccaro, enfatizou a complexidade do assunto que requer uma discussão ampla, dizendo que “o estado não consegue acompanhar os movimentos com a rapidez esperada, além das dificuldades de dar respostas”. Informou ainda que “há um entendimento da Prefeitura de que estamos abertos não só em buscar o diálogo com a Batalha, mas também buscar soluções. Estamos tentando concluir um Plano Municipal de Cultura com algumas Secretarias envolvidas nesse debate”.

Presente à reunião, o Luiz Roberto Alves diz-se atento e curioso a esse assunto remetendo-o ao início do Hip hop em SBC, à época em que era Secretário de Cultura, lembrando de Dilma de Melo e Silva e Neusa Borges, que tiveram papel fundamental em ouvir e mediar os jovens de então. Tínhamos “lado” e, como método, entender e atender o que eles reivindicavam, ou seja, muito pouco, um somzinho, uma plataforma. Hoje mudanças. Hoje eles gostam de dar o nome de coletivo, mas esse coletivo tem muito pouco a ver com o problema organizacional e o único caminho para o poder público é construir políticas públicas integradas, única solução para aquele mundo organizado que não no poder público, integrar 6 ou 7 Secretarias para viabilizar soluções a favor do novo que não entendemos ainda mais que cada vez vai se apresentar. Querer ser aberto numa sociedade cada vez mais conservadora. Momentos como este, aqui no Alpharrabio, ficam à parte do oficial, mas são capazes de pensar.”






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