Marcelo Dino Fraccaro
Ao ser aprovada pela Câmara dos Deputados na terça-feira,
primeiro de julho, a Política Nacional de Cultura Viva (PL 757/2011 de autoria
da deputada Jandira Feghali – PCdoB/RJ) vêm contribuir para o fortalecimento de
diferentes grupos e comunidades culturais espalhados por todas as regiões do
país e que antes não poderiam ter acesso a recursos destinados por outros
programas e leis de incentivo.
Ainda como programa de governo, o Cultura Viva foi
instituído durante a gestão de Gilberto Gil à frente do Ministério da Cultura (MinC)
no governo do presidente Lula. Passa a valer a partir de portaria datada de
julho de 2004 (Portaria 156 de 06 de julho de 2004), portanto há exatos dez
anos. Tendo à frente da secretaria específica que o acompanhava, o historiador
Célio Turino, que o desenvolveu e expressou seus principais objetivos e
elementos constitutivos no livro “Pontos de Cultura: o Brasil de baixo pra
cima”, o programa promoveu nos anos seguintes ações que possibilitaram a
criação de “pontos” e “pontões” de cultura em todo o país.
As ações do Cultura Viva acontecem através de convênios
firmados entre o MinC e governos municipais e estaduais, ou diretamente com as
próprias entidades mantenedoras dos pontos. A escolha dos projetos parte de
seleções em editais públicos. Preveem o repasse de recursos financeiros para os
projetos, durante o prazo de 3 anos, e acompanhamento das atividades através do
próprio ministério e também de secretarias de cultura.
Imaginado para atuar em caráter de “rede”, possibilitou
também a mobilização de grupos, conveniados ou não, que organizados em
movimento passaram a se constituir no verdadeiro “coração” da rede formada
pelos pontos. Essa organização em rede teve um papel fundamental na pressão
popular pela aprovação do projeto de lei. O Cultura Viva contempla também
editais de apoio a mídias digitais, pontinhos de cultura, prêmios a mestres e
projetos comunitários, entre outros.
Embora de caráter inovador e até certo ponto transformador
das relações de apoio e fomento público a pequenos grupos culturais antes
excluídos, o programa enfrentou também em seu curso algumas dificuldades, que
se não forem sanadas tenderão a criar barreiras complexas para a agora Política
Nacional de Cultura Viva. Dificuldades de administração e prestação de contas
dos recursos por parte de grupos iniciantes, atrasos de repasses de verbas,
criação de dependência de editais públicos para a continuidade dos projetos,
instrumentalização dos pontos e de redes por parte de administrações
municipais, são apenas algumas dessas dificuldades a serem superadas.
Na região do Grande ABC, o programa, que agora se transmuta
em política de Estado, teve pouco alcance até aqui. Diadema e São Bernardo
chegaram a iniciar redes de pontos de cultura conveniados com o MinC. Em outros
municípios há pontos de cultura, mas que obtiveram convênio em edital do MinC
com a Secretaria Estadual de Cultura (SEC), como é o exemplo do ponto de
cultura “Mistura e Gingada” de Santo André. De qualquer forma, diante da
potencialidade cultural da região e da capacidade de alocação de recursos por
parte de prefeituras, conclui-se que a participação ainda é tímida. Diante da
atual “disposição” dos municípios da região em participar de uma proposta mais
ampla de política cultural proposta pela MinC nos últimos anos, que envolve
além do Cultura Viva, a criação do Sistema Nacional de Cultura e outras
políticas estruturantes, pode-se dizer que é no mínimo desanimadora a possibilidade
que no curto prazo tenhamos uma ampla rede de pontos e pontões existentes e
pulsantes na região.
É necessário reconhecer que a aprovação da “Lei Cultura
Viva” é um passo importante para uma maior democratização e descentralização de
recursos públicos para a cultura no país. Além de representar uma grande
conquista de grupos culturais, comunidades, coletivos, movimentos organizados e
de ampla parcela da população que se esforçou durante anos para que, antes
mesmo da lei aprovada, a rede nacional de pontos de cultura se constituísse
como um ator respeitado e protagonista da política cultural. Porém, é também
urgente e necessário a criação de mecanismos de acompanhamento e fortalecimento
das ações do Cultura Viva, assim como disposição por parte de governos
municipais e estaduais para que a novidade trazida pelos pontos não se perca na
rede de vícios corporativos, fugacidades e privatismos que caracterizam nossas
políticas culturais.
Muito bom o artigo, inclusive na identificação das fragilidades. Parabéns e obrigado.
ResponderExcluirAh, sim , pensei que meu nome sairia automaticamente, quem escreve o cometário acima é Célio Turino
ResponderExcluirOla, Celio! Obrigado pelo comentário sobre o texto. Sua contribuição para a conquista da Lei foi determinante, assim como é importante para o avanço de novas políticas. Continue firme nessa luta. Abraços!
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