quinta-feira, 24 de julho de 2014

Copa, cultura e lepo lepo


Neusa Borges
A Copa do Mundo da Fifa 2014  acaba de acontecer no nosso País tropical abençoado por Deus. O pré-Copa, no entanto, foi bastante tumultuado, com o povo nas ruas protestando (legitimamente!!!) contra os gastos excessivos para a construção de estádios; tivemos inúmeras greves, ações violentas envolvendo Black blocs e policiais; era visível a indiferença nas ruas, pois víamos poucas casas e carros enfeitados com bandeiras brasileiras. Chegamos a pensar: não vai ter Copa.
Bastou a bola rolar para tudo mudar. Inúmeras fachadas de casas e prédios foram enfeitadas com bandeiras do Brasil; nos estádios superfaturados, brasileiros foram às lágrimas com o hino cantado a capela, e os comerciantes da Rua 25 de Março ficaram felizes da vida com as vendas de enfeites.
Não há dúvida que tivemos a “Copa das Copas”. Vimos ato de “canibalismo”, com o atacante uruguaio Luis Suáres mordendo o ombro do adversário, joelhaço do colombiano Zúninga na coluna vertebral do jogador Neymar e, estarrecidos, assistimos ao vexame histórico no Mineirão, quando Klose e Muller cravaram 7 a 1 na Seleção anfitriã. Mas, também tivemos milhares de turistas estrangeiros – somente em São Paulo, foram cerca de 500 mil - simplesmente maravilhados com as nossas belezas naturais e a hospitalidade do povo brasileiro. Foram tantos argentinos que vieram ao Brasil, que foi preciso disponibilizar sambódromo e autódromo para os que chegaram em traillers, ônibus e vans.
Com o término do Mundial, é chegada a hora de falar sobre o legado que ele deixou.  Ah, agora só vale falar de faturamento, não se comenta sobre os gastos, bem como das nove vidas perdidas nas construções dos estádios.
Dias atrás, Fernando Haddad e Dilma Rousseff expuseram os lucros obtidos, omitindo, obviamente, os custos, que foram exorbitantes. Segundo divulgação do Ministério do Esporte, em setembro de 2013, o custo total dos estádios ficou em R$ 8,0005 bilhões.
Mas, e a questão cultural na Copa? A jornalista Paula Cesarino Costa, em seu artigo A falha cultural da Copa (Folha de São Paulo – 17/7/2014), comenta: “além das Fan Fests ou festas pagas em clubes e casas de show. sendo que a maior parte dessa oferta cultural vinha de patrocinadores de algum modo envolvidos com a Copa, nada mais foi oferecido aos estrangeiros que aqui aportaram”.
Vale acrescentar que, nos palcos das Fan Fests organizados pela dona Fifa, subiram artistas cujos repertórios são aqueles consagrados pela indústria cultural.
Num esforço conjunto, Minc e secretarias de cultura das cidades-sede poderiam ter organizado programações culturais que de fato revelassem todo o nosso potencial criativo e a riqueza da nossa cultura.
Um jornalista brasileiro que cobria os festejos com a chegada da Seleção Alemã em seu País, logo após a conquista do penta, ouviu de um jogador alemão que ele gostou muito da música Lepo Lepo, do Psirico.
Yes, nós temos Lepo Lepo. Mas, também boa música, grandes poetas e artistas plásticos. Temos maracatu, catira, ciranda, congada, capoeira... E fazemos samba do bom. Ah, e quem não gosta, dizem que é ruim da cabeça ou doente do pé.     

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