Simone Massenzi Savordelli
Há dias estou pensando nesta palavra: rompimento.
O sentido, em regra, atribuído a esta palavra tem uma conotação negativa. Romper significa partir; dilacerar; quebrar; dividir com violência. Mas, há tempos concebo um significado ao rompimento que implicitamente, muito embora o praticasse, não detinha a consciência plena do que empreendia.
Explico.
Ao ler o livro “Uma Arqueologia da Memória Social – Autobiografia de um Moleque de Fábrica” do Professor José de Souza Martins, tive muitas revelações. Revelações do inconsciente para o consciente que me levaram à compreensão do significado que há muito venho atribuindo ao “rompimento”.
Naquela leitura compreendi os pensamentos do meu pai que descende de imigrantes que chegaram ao Brasil nos idos de 1880 com o intuito do trabalho. Aqueles que “romperam” com suas culturas desbravando um mundo desconhecido para criar o verdadeiro “novo mundo” e passaram por profundas mudanças; tentando preservar suas origens mas tendo que se adaptar a novos costumes e conceitos. Aquelas pessoas não aceitavam tão facilmente o “rompimento”, mas as contingências da vida e suas escolhas assim as obrigaram.
Vieram as novas gerações e, com novos pensamentos nascidos já no novo mundo, atribuíram novos valores aos costumes. Mesmo aqueles que deram continuidade às suas culturas originárias, a elas deram um ar moderno e assim romperam com o pensamento original de seus antepassados.
Na passagem do Professor Martins aonde ele relata sua pretensão de seguir um caminho estranho ao caminho, até então, traçado por seus familiares mais próximos, compreendi que o rompimento pode ser algo positivo. O rompimento pode ser uma forma de evolução.
Podemos romper conceitos sem deles nos desligar e sem desrespeitar aqueles que os defendem por suas convicções, por seus costumes, por suas próprias ambições ou dificuldades. Podemos romper para seguir novos caminhos sem sermos violentos, sem sermos estrangeiros ou alienígenas.
Com esse pensamento entendi que ao longo da vida fui rompendo com conceitos pregados por familiares e amigos sem deles me distanciar e sem deles perder fortes vínculos.
Pensando nestes preceitos acabei por entender que no meio cultural o rompimento também pode ser algo positivo. Talvez falte maior empenho para romper com práticas e conceitos que impedem a construção do “novo mundo”. Debater, pensar, estudar e fazer um novo caminho. Ter consciência do que é possível e realizar. É o que espero que aconteça para o futuro acolher a cultura como fonte de formação da consciência social, rompendo conceitos, permitindo a evolução e a valorização do que foi passado.
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