segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

A propósito dos 21 anos do Consórcio Intermunicipal do ABC - III

Consórcio, Câmara, Agência, Povo*
Luiz Roberto Alves**


Um balanço da regionalidade no ABCD e suas características

Há uma expectativa para os próximos anos sobre as novas articulações nascidas no correr dos anos 1990 e que se constituíram na governança consorcial do ABCD: manter a atitude exclusivamente consorcial ou transformar-se em gestão social. Há grandes diferenças entre elas. De um lado, a cômoda, embora competente, ação do consórcio oficializado, mas que não se constitui em governança regional efetiva. Ademais, um consórcio independe dos demais atores constituídos em passado recente: agência, câmara e fórum de cidadãos e cidadãs. Pode existir e até fazer boas coisas sem eles, como faz o nosso. Mas não chegará à gestão intercomplementar, dependente e socializada, capaz de entender na diversidade dos atores o mundo complexo que se instala.
Em 19 de dezembro, o Consórcio Intermunicipal realizou um bom seminário. Recebeu documentos e livros de Celso Daniel, grande incentivador e criador dos anos 1990 na Região. Tais documentos serão de grande valia. A doação familiar é um ato de carinho para com a Região. Simultaneamente debateu o destino próximo do ABCD, com pessoas especiais e comprometidas com a Região. Para fazê-lo, recuperou fundamentos da reestruturação social e econômica regional, que tiveram base na busca de consensos, na plataforma e na agenda de ações debatidas em comum, no respeito aos diferentes atores e na boa compreensão do micro e do macro, do local e do mundo. O consórcio, naquela época, não incorporava a auto- suficiência e então, agendas e pautas regionais foram trabalhadas pela Câmara Regional, pela Agência de Desenvolvimento e pelo Fórum da Cidadania, criações necessárias e competentes. Este último foi indispensável como dimensão da democracia direta, que deve ser o nosso futuro democrático. Somente o aprofundamento objetivo e subjetivo no que é local e regional permite ser do mundo e ser de sua terra, ter pés e mentes portadoras de identidade e objetivos claros. Ninguém pode ficar no meio do caminho. Milton Santos e Saskia Sassen já nos ensinaram isso.


O ABCD fez inovação desde os anos 1980. Descobriu que seu consorciamento pleno, feito para o conjunto de políticas sociais e econômicas era o melhor caminho, diferentemente de outros consórcios. Mas entendeu que deveria haver a superação da consorcialidade em nome de uma governança continuamente inovadora. A essa superação pode-se chamar gestão social. A sociedade assume diferenças e consensos, mas avalia de modo intercomplementar e multidisciplinar sua marcha, de modo a produzir acumulação de massa crítica e de memória ao mesmo tempo em que produz mudanças temporais de impacto. Na gestão social não há representatividade eficaz de conselhos, mas sim de fóruns. Não há comunicados, mas sim seminários e comunicações. Quem formulou e elaborou a partir do estímulo do Celso Daniel, tem a obrigação de produzir uma inteligência coletiva, descobrir os novos processos micro e macro da realidade sócio-econômico-ambiental e continuar a fazer o novo, o evangelho laico que aponta para o bem-público, para o que é de todos e todas.

*   Texto originalmente publicado no jornal ABCDMAIOR, em 27.12.2011
** Luiz Roberto Alves é professor e pesquisador da Universidade Metodista e da USP

2 comentários:

  1. Os três textos relativos aos 21 anos do Consórcio Intermunicipal são expressões da inteligência do ABC que se mantém ativa e participante da vida política da região. Hildebrando Pafundi, Silvia Passareli e Luiz Roberto Alves, com diferentes registros, lembram-nos que o Consórcio foi/é/será(?) uma
    construção sócio/política/econômica da região e que, para dar conta dos desafios maiores que temos pela frente, precisará aprofundar a inovação com a participação da teia da inteligência dos que aqui vivem, trabalham, investem e criam.
    Julio Mendonça

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  2. E como diz o Prof. Luiz Roberto Alves em seu texto, se vê diante de um dilema. "Manter a atitude exclusivamente consorcial ou transformar-se em gestão social". As mais recentes demonstrações por parte da direção da entidade nos indicam que prevalece hoje a primeira opção.

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