terça-feira, 27 de agosto de 2013

In Memorian


Simone Massenzi Savordelli

Em tempos de perdas, muitas perdas, sinto-me desalmada. Explico:

A palavra “perda”, segundo o famoso “Aurélio”, significa: 1. Ato ou efeito de perder. 2. Morte, falecimento. 3. Extravio, sumiço. 4. Dano total, destruição.

Penso que, todos os dias, sofremos perdas. Algumas até suportáveis e fatos da vida. Outras, nem tanto. Perdemos coisas, bens preciosos, bens insignificantes, opiniões, tempo, paciência, ânimo, sonhos. Perdemos pessoas. Perdemos o que as pessoas nos deixam.

Diante de tantas perdas, devemos fazer um esforço maior para manter a memória do que realmente importa. A memória das pessoas pelo que foram e pelo que fizeram. A memória da cidade pela arquitetura, costumes e tradição.

É um esforço tão grande e com tão pouco reconhecimento de valor. É um esforço que, nem sempre, dá conta de conter certos disparates e certos esquecimentos.

Manter a memória exige um constante movimentar a vida daquele que perdemos e um constante vigiar. No menor fechar de olhos, pronto! Vem o esquecimento, total e absoluto!

Penso que as pessoas que mais desejam serem lembradas (in memorian) são os artistas, os pensadores, os poetas e todos aqueles que extravazam sua criatividade em ações concretas. A sua produção será o objeto de sua memória e, consequentemente, a necessidade de sua preservação.

Os nossos antepassados também desejam serem lembrados pelo que construíram, pela cidade que pisaram e pelos costumes que criaram. Consequentemente, prédios históricos, ruas, praças, bares e outros equipamentos devem ser preservados para guardar a memória, a nossa memória, o que vivemos antes de nós mesmos.

No primeiro plano, o do artista, as famílias encontram inúmeras dificuldades e inúmeros acontecimentos fortes o bastante para uma boa dose de desânimo. Mas, a família possui a força do sangue e mesmo que seu esforço não possa alcançar a humanidade, alcança a si mesma e a todos que a rodeiam. A preservação vai se mantendo, sabe-se lá como?!

No segundo plano, o da cidade, aí a coisa complica, e muito! Quando menos esperamos vem um trator e derruba tudo. No dia seguinte há apenas o vazio e algumas fotos e algumas histórias que, com o passar do tempo, entrarão para a conta da perda.

No lugar do vazio, tenta-se colocar a modernidade que, simplesmente, ignora tudo o que existiu antes dela e para que ela mesma pudesse existir.

Esta melancolia toda me vem aos olhos todos os dias quando abro a janela e vejo a praça da Igreja Matriz totalmente cimentada. Faltam-lhe os velhos bancos e tantas árvores! Até as pombas sumiram. A Igreja, hoje, de expressão possui somente a cor e a vontade de atrair mais fiéis. A Capelinha resiste bravamente rodeada por cimento e pessoas desinteressadas, ali onde cresceu uma ampla calçada em seu entorno e ela quase é uma intrusa que atrapalha o caminho. Sua cor totalmente destoante da Igreja Matriz a faz um ser estranho pela falta da preservação da memória de sua cercania. Prevalece o progresso!

Fatos outros, de perdas memoráveis, me causam melancolia - se é que me faço entender?! A retirada da obra de Sacilotto do calçadão da Oliveira Lima, em Santo André. Sem explicações. A destruição do Teatro Carlos Gomes. As chaminés das lembranças de Teles! Tantos poetas não mais lidos... Quantas outras que, até de minha memória desta vida ainda curta, já se foram!

O que fazer para evitar tantas perdas e para resgatar a nossa própria existência?


Sim, desalmada. Falta-me, agora, perder a alma, mas não a esperança!

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