Simone Massenzi
Savordelli
Em tempos de perdas, muitas
perdas, sinto-me desalmada. Explico:
A palavra “perda”, segundo o
famoso “Aurélio”, significa: 1. Ato ou
efeito de perder. 2. Morte, falecimento. 3. Extravio, sumiço. 4. Dano total,
destruição.
Penso que, todos os dias,
sofremos perdas. Algumas até suportáveis e fatos da vida. Outras, nem tanto.
Perdemos coisas, bens preciosos, bens insignificantes, opiniões, tempo,
paciência, ânimo, sonhos. Perdemos pessoas. Perdemos o que as pessoas nos deixam.
Diante de tantas perdas, devemos
fazer um esforço maior para manter a memória do que realmente importa. A
memória das pessoas pelo que foram e pelo que fizeram. A memória da cidade pela
arquitetura, costumes e tradição.
É um esforço tão grande e com tão
pouco reconhecimento de valor. É um esforço que, nem sempre, dá conta de conter
certos disparates e certos esquecimentos.
Manter a memória exige um
constante movimentar a vida daquele que perdemos e um constante vigiar. No
menor fechar de olhos, pronto! Vem o esquecimento, total e absoluto!
Penso que as pessoas que mais
desejam serem lembradas (in memorian) são os artistas, os pensadores, os poetas
e todos aqueles que extravazam sua criatividade em ações concretas. A sua
produção será o objeto de sua memória e, consequentemente, a necessidade de sua
preservação.
Os nossos antepassados também
desejam serem lembrados pelo que construíram, pela cidade que pisaram e pelos
costumes que criaram. Consequentemente, prédios históricos, ruas, praças, bares
e outros equipamentos devem ser preservados para guardar a memória, a nossa
memória, o que vivemos antes de nós mesmos.
No primeiro plano, o do artista,
as famílias encontram inúmeras dificuldades e inúmeros acontecimentos fortes o
bastante para uma boa dose de desânimo. Mas, a família possui a força do sangue
e mesmo que seu esforço não possa alcançar a humanidade, alcança a si mesma e a
todos que a rodeiam. A preservação vai se mantendo, sabe-se lá como?!
No segundo plano, o da cidade, aí
a coisa complica, e muito! Quando menos esperamos vem um trator e derruba tudo.
No dia seguinte há apenas o vazio e algumas fotos e algumas histórias que, com
o passar do tempo, entrarão para a conta da perda.
No lugar do vazio, tenta-se
colocar a modernidade que, simplesmente, ignora tudo o que existiu antes dela e
para que ela mesma pudesse existir.
Esta melancolia toda me vem aos
olhos todos os dias quando abro a janela e vejo a praça da Igreja Matriz
totalmente cimentada. Faltam-lhe os velhos bancos e tantas árvores! Até as pombas
sumiram. A Igreja, hoje, de expressão possui somente a cor e a vontade de
atrair mais fiéis. A Capelinha resiste bravamente rodeada por cimento e pessoas
desinteressadas, ali onde cresceu uma ampla calçada em seu entorno e ela quase
é uma intrusa que atrapalha o caminho. Sua cor totalmente destoante da Igreja
Matriz a faz um ser estranho pela falta da preservação da memória de sua
cercania. Prevalece o progresso!
Fatos outros, de perdas
memoráveis, me causam melancolia - se é que me faço entender?! A retirada da
obra de Sacilotto do calçadão da Oliveira Lima, em Santo André. Sem
explicações. A destruição do Teatro Carlos Gomes. As chaminés das lembranças de
Teles! Tantos poetas não mais lidos... Quantas outras que, até de minha memória
desta vida ainda curta, já se foram!
O que fazer para evitar tantas
perdas e para resgatar a nossa própria existência?
Sim, desalmada. Falta-me, agora,
perder a alma, mas não a esperança!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Se você não tem cadastro no Google, pode deixar seu comentário selecionando a opção Nome/URL no campo Comentar como logo abaixo.