terça-feira, 11 de junho de 2013

Conferência Livre de Cultura – Impressões

  
Vanessa Molnar*


Após refletir sobre a importância da inserção do município (Santo André) no Sistema Nacional de Cultura, decidi participar da Conferência Livre que aconteceu ontem na UFABC e acredito que, como a maioria dos Produtores Culturais presentes, me senti bastante contemplada na fala do Dramaturgo Abreu quando ele mencionou a bipolaridade das Políticas Públicas de Cultura na nossa região e sua respectiva aversão à política moderna, fundada por Maquiavel, como um mero jogo de correlação de forças que tem como único objetivo ganhar e manter o poder, ressaltando a incompatibilidade natural desse viés com o trabalho criativo dos artistas, que é um trabalho fundamentado em valores humanos que estão em crise na nossa sociedade.
 



Eu, particularmente, tenho uma relação de amor e ódio com essa cidade a qual pertenço. Tive experiências significativas na minha formação/inserção que me foram propiciadas por  momentos positivos de gestão cultural que tive a sorte de vivenciar, seguidos de imensos vazios que transformaram a cidade em um deserto cultural, apesar, é claro, dos pequenos focos de  resistência que fazem parte da História Cultural da região.

Minha participação, ontem, em um módulo específico voltado para a reflexão das práticas educacionais e sua relação com a cultura me levou a refletir sobre minha própria trajetória. Afinal, não posso deixar de dizer que fui para a Conferência com uma vaga  sensação de inércia e até de culpa por uma persistência meia nonsense (Deixar meu filho de 3 anos no domingo tendo um trabalho de 40 horas semanais, não é fácil)  e se eu não morasse do lado da Universidade, provavelmente não teria ido. Participo da vida cultural dessa cidade há exatos 21 anos ( Há 21 como público/usuário e há dez como produtora de forma escassa). Aos dezesseis anos assumi a presidência do grêmio da minha escola (Pública),  posicionamento político humanista que (apesar das desilusões) até hoje me define, e exerci uma militância intensa no movimento estudantil que me levou a ser vice-presidente da UMES, me decepcionei com o Partido dos Trabalhadores e PC do B, ao qual fui filiada e tive a sorte (devido ao meu esforço) de estudar na USP, onde pude aprofundar meu parco conhecimento relativo as relações ou, como alguns preferem, Ciências Sociais, pelas quais fui apaixonada (Hoje menos, confesso). Depois de formada e de um longo divórcio com a cidade, resolvi abraçar a literatura como o principal alicerce de significação da minha existência.

Há mais uma série de fatos relevantes que poderia descrever, mas, no fundo, acho que decidi participar da conferência porque estou profundamente incomodada com essa fixação de valores não humanos que estão sendo disseminados como algo natural. Brincando com alguns amigos, que tive a sorte de reencontrar, nós chegamos a conclusão de que o mundo está passando por uma Revolução do Neo- Conservadorismo: Protestos contra os direitos das empregadas domésticas, mercantilização de tudo em grau cada vez mais elevado, sucateamento e falência total do Ensino Público, Feliciano e tantas aberrações.

Talvez eu ainda teime em resistir por causa do medo imenso que tenho ao pensar no mundo que meu filho herdará se não houver resistência a esse projeto de desumanização total que está sendo implementado e vendido de forma tão agressiva sob o matiz alegre do consumo fácil, padronizado e irresponsável.

Sei que cheguei em casa com a sensação de ter feito uma boa escolha, independentemente dos resultados da conferência (que foram positivos), alegre por ainda conseguir resistir, por ter reencontrado os amigos (amigos de trajetória) e ver que não sou a única  que persiste, por ter conhecido novas pessoas e verificar que, apesar das naturais nuances, elas ainda sonham, por enxergar a possibilidade de novas perspectivas  e sobretudo por ter entendido que, afinal de contas, eu pertenço a esse lugar. 

 .............................
*Vanessa Molnar é escritora, autora do livro Crônicas de Uma Tara Gentil, Prêmio PAC e Historiadora.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Se você não tem cadastro no Google, pode deixar seu comentário selecionando a opção Nome/URL no campo Comentar como logo abaixo.