sexta-feira, 14 de junho de 2013

Conferência Livre de Cultura de Santo André - Jornada do Trabalho e do Pensar Cultural

Dalila Teles Veras

A ideia foi gestada no processo. A opção pelo aprofundamento da discussão e construção de massa crítica, através de debates e palestras, foi a resposta inteligente do Movimento Cultura Viva Santo André à falta de respostas institucionais.  
Na contramão de uma política pública de resultados midiáticos e adversidades impostas de forma proposital, o Movimento optou pelo caminho do pensar e do debate de ideias sem, contudo, deixar as ações fora desse processo. Foi assim que artistas, intelectuais, produtores, fruidores e pensadores da cultura, chegaram à realização da I Conferência Livre de Cultura de Santo André. Os excelentes resultados, afinal, não surpreendem seus protagonistas, posto que são fruto de compromisso, seriedade e muito trabalho. Gente que há décadas milita em diversas frentes do debate e das práticas culturais, cidadãos  construtores de processos e acúmulos, aprendem ao lado de jovens que agregam ao processo outros saberes e habilidades, próprios de sua geração, como o domínio de tecnologias digitais, juventude desejosa de seguir e abrir novos caminhos.

O papel das redes sociais e outros meios do universo da comunicação digital foi preponderante na divulgação de todos os passos rumo à realização da Conferência.
 
E foi assim que o domingo 9 de junho fez-se epifania, no seu sentido religioso e profano (celebração-representação). Foi num dia consagrado ao descanso que se deu o acontecimento do trabalho fraterno de gente incansável que não desiste. Junção de utopias e sonhos ainda possíveis, verdadeira jornada do trabalho e do pensar.
 
Era escuro ainda o dia quando os trabalhadores da cultura começaram a chegar ao belo e novíssimo edifício da Universidade Federal do ABC, que entendeu o chamado da comunidade e abrigou a Conferência, dentro de uma política de Pró-Extensão de uma Universidade aberta à Comunidade, além dos espaços necessários (saguão, salas e auditório) outros meios para sua realização.  
 
foto: marcello vittorino

O fato de ser livre, independente, sem qualquer vínculo com nenhuma espécie de poder, nada tem a ver com eventual "desorganização". O trabalho foi árduo e antecedeu em muitos dias e meses a Conferência. Avançou por dias e noites afora, de forma voluntária e desinteressada. Aquela centena de almas que ali estavam não visou nenhuma benesse pessoal, muito menos glórias individuais. Não houve destaque para um nome sequer. Nada de cerimonial nem de autoridades. Todos eram ao mesmo tempo trabalhadores e autoridades, mestres e alunos em pé de igualdade, aprendendo um com o outro. Jovens e octogenários inscrevem-se/escrevem juntos a história e vivenciam um momento único.

Assim, a Conferência Livre, transcorreu dentro da mais perfeita organização, alcançando, inclusive, preciosismos de atenção ao detalhe: programas e temas impressos, pastas e crachás para todos, temário e respectivas salas identificados por cores. Trabalho voluntário e prazeroso. As ideias em amarelo, em azul, em verde e em vermelho anotadas é que deram a tônica da insubordinação, projetando utopias para uma cidade melhor e para todos. Ao lado dos cidadãos residentes em Santo André, a presença de cidadãos das cidades irmãs que compõem a região do ABC, irmanados pelo desejo de participar e contribuir com o debate de ideias.
Já na mesa de abertura o diagnóstico de uma convidada, Liduína Lins (Consultora Minc/UNESCO): "Este Movimento qualifica o debate para a Conferência Municipal de Cultura de Santo André e dá solidez às proposições para um Plano Municipal de Cultura consistente"  ao lado da palavra imprescindível do Mestre Luís Alberto de Abreu (um dos mais atuantes dramaturgos e roteiristas brasileiros, nascido e residente na região do Grande ABC: "Temos a tradição dos sindicatos, que nasceram dos operários, massa crítica histórica de como a política deve caminhar. A produção cultural não pode ficar dependente de verbas e do poder econômico. Precisamos ganhar força para essa correlação de forças. Temos elementos para isso. Somos sociedade civil, destino da nação e esse destino está ligado a valores."
foto: dalila teles veras

Poesia e música, Rhythm And Poetry ("estou armado com a palavra, ela é minha munição") sanduiche natural e café no intervalo, também ajudaram a alimentar corpos e espíritos. Poucos arredaram pé. Após quase 12 horas de exaustivo trabalho, a alegria cidadã, o retorno a casa, mochilas carregadas de utopia e a certeza de que esta é uma jornada em curso sem data para acabar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Se você não tem cadastro no Google, pode deixar seu comentário selecionando a opção Nome/URL no campo Comentar como logo abaixo.