Luiz Roberto Alves
Para nosso infortúnio, os modos de organização social da Colônia, do Império e da República no Brasil impossibilitaram às lideranças e aos gestores de qualquer época a devida compreensão do sentido maior da educação e da cultura na vida social, ou do binômio integrado educativo-cultural. Ele precisa ser suporte de valores e de símbolos na construção e no desenvolvimento de um modo autônomo de formar: formar pessoas e formar instituições/organizações, públicas e privadas. Noutras palavras (o que se verificou na Alemanha e no Japão pós-Guerra, nas comunas italianas, em cidades como Bogotá e Seul, em vários espaços de saúde e em experiências localizadas a partir do trabalho de Paulo Freire), a linguagem que estruturou o diálogo social, as decisões sócio-econômicas, os planejamentos e as práticas também produziu uma cola, uma solda, uma liga capaz de sustentar as demais políticas dessas comunidades e sociedades. Qualquer boa entrevista com pessoas desses – e de outros – lugares revelará o valor irredutível de educação-cultura. Não existe nenhuma outra mediação social, em tempos de relativa paz, que não o binômio integrado educação-cultura. Em tempos de tragédia natural ou de guerra surgem, obviamente, outras mediações. Portanto, a mediação educativo-cultural cruza necessidades, desejos e projetos sociais e termina por garantir melhor saúde, mais salário, melhor emprego, habitação digna e resultante de participação das famílias etc. Enfim, o efetivo progresso social. Educação-cultura, enquanto medeia as relações sociais, provoca mudanças de linguagem, amplia visões-de-mundo, induz a novos desejos e exigências sociais. Não de modo superficial, mas como uma cola, uma liga que não desata. Entre nós, infelizmente, deu-se o progresso do atraso, isto é, a incultura (sob a forma de diversas violências físico-mentais) e o investimento limitado e corrompido romperam a mediação do valor e produziram uma simulação de educação e cultura como ferramenta, utilidade conjuntural, instrumento; um simulacro funcionalista que teima em aboletar-se nos diversos espaços do poder. Desde a família à República. No entanto, há sinais claros, desde alguns anos, de que podemos dar o salto histórico, a redenção. Dá-se um novo diálogo social e se organizam no país, via democracia, conferências, acesso, transparência e denúncia. Também algum investimento a mais e o sentido de educação e cultura como direitos. Ótimo. Mas o binômio educação-cultura ainda não é a cola mediadora do desenvolvimento e há muito pragmatismo a colocar em xeque os esforços e os símbolos. Carecemos de mais forças, mais massa crítica, mais rigor e o ajuntamento da inteligência a serviço da criação de novas lideranças comunitárias que acreditem e pratiquem os valores insuspeitos que se encontram no coração do cultural e do educacional. Urgir é preciso.
* texto originalmente publicado no jornal ABCDMaior
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