Carlos Lotto
Esta pergunta abre a Carta de Responsabilidade do Artista
redigida pela UNESCO em 2009, e lembrei-me dela após a ultima reunião da
“comissão de cultura” do candidato a prefeito Carlos Grana, pelo PT.
Na quarta feira dia 4/4, na sede do partido em Santo André
foi apresentado um breve relato das atividades culturais da região
conforme registros no Museu da cidade,
pela historiadora Suzana Klee.
Das ingênuas atividades voltadas ao lazer pudemos observar a lenta apropriação dos espaços em ações
reconhecidas como culturais, como mostras de musica, dança e o Teatro de
Alumínio. Há poucas referencias documentadas sobre movimentos populares,
carnaval de rua, a participação de empresas como a Rhodia e sindicatos, e menos
ainda de Paranapiacaba, que integrava um
circuito erudito internacional. A inauguração do Paço Municipal na virada dos
anos 60/70 com o complexo teatro, biblioteca, salão de exposições e instalações
da Secretaria de Cultura, formaliza o lugar da arte. É de importância o
GTC-Grupo Teatro da Cidade criado nessa década.
A partir da primeira gestão de Celso Daniel uma política
cultural de contornos incisivos é implantada permitindo a pesquisa nas
linguagens artísticas em espaços adequados, através de profissionais
reconhecidos, com ações descentralizadas, com fruição, debates e encontros que
finalmente aglutinaram os jovens artistas da cidade. Sou um produto cultural
gestado nessa época, que a partir daí passou a atuar também como produtor.
Voltando a “ comissão de cultura” a ser convidada pelo PT
neste ano de 2012, pratica que ocorre democraticamente a cada eleição, me
pergunto onde estão os outros centenas de artistas inseridos culturalmente na
cidade de Santo André, desde aquela época? Estarão descrentes deste contato
apenas as vésperas das eleições? Não será a cultura uma discussão permanente?
A conversa, que visa um programa de governo, ainda é
bastante tímida, pois baseia-se na ocupação dos mesmos espaços de cultura
pensados há quase 30 anos, pelas respectivas linguagens artísticas.
Nos atuais tempos midiáticos, vertiginosos, globalizados,
informatizados, tecnológicos, plurais, idiossincráticos, não seria mais
coerente se discutir um perfil de gestor cultural? Como capacitar agentes
culturais desmotivados pela maquina publica, como ampliar orçamentos, parcerias
e intercâmbios, como prover remunerações dignas ao artista local? Como fomentar
ações coletivas, associações e aproximações solidárias que busquem processos
criativos em beneficio da comunidade? Como confrontar a rua aos “templos das
artes”, e a integração das artes? Como se apropriar de uma consciência
sul-latino-americana? Como resgatar perspectivas ao produtor local e assim
preservá-lo? E o fator determinante no ABC que é a interregionalidade?
Enfim, inserção social, ética, saúde, educação, cidadania
são chavões de todos os discursos, mas o elo que cria e fortalece relações
chama-se CULTURA.
Não sei o que é um “espaço poeticamente habitável”, afinal
qual é o lugar da poesia? Mas acredito que somos co-responsáveis. Convido todos
ao debate, além dos partidos.
Parabéns pelo texto Lotto,
ResponderExcluirLeitura oportuna e necessária reflexão para o momento atual, quando se pretendem reduzir a Cultura a "planos de governo".
Abraços,