segunda-feira, 23 de abril de 2012

“È possível sonhar com um mundo poeticamente habitável?”

Carlos Lotto

Esta pergunta abre a Carta de Responsabilidade do Artista redigida pela UNESCO em 2009, e lembrei-me dela após a ultima reunião da “comissão de cultura” do candidato a prefeito Carlos Grana, pelo PT.
Na quarta feira dia 4/4, na sede do partido em Santo André foi apresentado um breve relato das atividades culturais da região conforme  registros no Museu da cidade, pela historiadora Suzana Klee.
Das ingênuas atividades voltadas ao lazer pudemos observar  a lenta apropriação dos espaços em ações reconhecidas como culturais, como mostras de musica, dança e o Teatro de Alumínio. Há poucas referencias documentadas sobre movimentos populares, carnaval de rua, a participação de empresas como a Rhodia e sindicatos, e menos ainda de Paranapiacaba,  que integrava um circuito erudito internacional. A inauguração do Paço Municipal na virada dos anos 60/70 com o complexo teatro, biblioteca, salão de exposições e instalações da Secretaria de Cultura, formaliza o lugar da arte. É de importância o GTC-Grupo Teatro da Cidade criado nessa década.
A partir da primeira gestão de Celso Daniel uma política cultural de contornos incisivos é implantada permitindo a pesquisa nas linguagens artísticas em espaços adequados, através de profissionais reconhecidos, com ações descentralizadas, com fruição, debates e encontros que finalmente aglutinaram os jovens artistas da cidade. Sou um produto cultural gestado nessa época, que a partir daí passou a atuar também como produtor.
Voltando a “ comissão de cultura” a ser convidada pelo PT neste ano de 2012, pratica que ocorre democraticamente a cada eleição, me pergunto onde estão os outros centenas de artistas inseridos culturalmente na cidade de Santo André, desde aquela época? Estarão descrentes deste contato apenas as vésperas das eleições? Não será a cultura uma discussão permanente?
A conversa, que visa um programa de governo, ainda é bastante tímida, pois baseia-se na ocupação dos mesmos espaços de cultura pensados há quase 30 anos, pelas respectivas linguagens artísticas.
Nos atuais tempos midiáticos, vertiginosos, globalizados, informatizados, tecnológicos, plurais, idiossincráticos, não seria mais coerente se discutir um perfil de gestor cultural? Como capacitar agentes culturais desmotivados pela maquina publica, como ampliar orçamentos, parcerias e intercâmbios, como prover remunerações dignas ao artista local? Como fomentar ações coletivas, associações e aproximações solidárias que busquem processos criativos em beneficio da comunidade? Como confrontar a rua aos “templos das artes”, e a integração das artes? Como se apropriar de uma consciência sul-latino-americana? Como resgatar perspectivas ao produtor local e assim preservá-lo? E o fator determinante no ABC que é a interregionalidade?
Enfim, inserção social, ética, saúde, educação, cidadania são chavões de todos os discursos, mas o elo que cria e fortalece relações chama-se CULTURA.
Não sei o que é um “espaço poeticamente habitável”, afinal qual é o lugar da poesia? Mas acredito que somos co-responsáveis. Convido todos ao debate, além dos partidos.

Um comentário:

  1. Parabéns pelo texto Lotto,
    Leitura oportuna e necessária reflexão para o momento atual, quando se pretendem reduzir a Cultura a "planos de governo".
    Abraços,

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