segunda-feira, 10 de março de 2014

Pertencimento, ou sentimento?



Simone Massenzi Savordelli


Nesta época do ano, em que o carnaval aflora o sentimento da cultura popular brasileira que por meio desta grande manifestação mostra o que é a identidade do povo brasileiro, cada um, em seu âmago, faz o juízo sobre esta identidade.

Os costumes, a culinária, a língua, a arquitetura, as manifestações culturais, enfim, todos os elementos que possam identificar um povo fazem parte do aparato cultural que vai se arraigando ao longo do tempo, de modo que em qualquer parte do mundo os elementos se tornam únicos e de imediato reconhecimento.

Muito embora o carnaval do Rio de Janeiro e de São Paulo sejam os marcos avaliatórios desta manifestação de cultura brasileira, neste nosso imenso território existem tantas outras manifestações tão fortes quanto, e talvez até muito mais brasileiras e que vão sendo ensinadas de geração em geração por mestres da vida, elemento este que mais ainda faz arraigar a identidade cultural de um povo e de uma região. Bem, pelo menos no meu entender.

Tudo isso para dizer não só daquilo que identifica e qualifica um povo, mas também do elemento que se forma em torno da consciência social, do movimento político e dos usos que este povo faz dos equipamentos públicos e da própria sociedade.

A arquitetura, as cidades, as ruas, os bairros, o comércio, a vida... Tudo se forma, evolui, constrói, ou destrói à partir da consciência do povo; do que a sociedade como um todo pensa de si mesma, deseja para si e para o futuro.

O coletivo exerce um poder sobre o indivíduo e faz uma força plena girar uma engrenagem que vai para frente, ou retrocede, tudo conforme esta consciência social e conforme o que o povo sente de si mesmo.

Em algumas regiões vemos as cidades e seus equipamentos públicos como praças e parques bem preservados, bem cuidados, sem lixo, sem destruição. Pode até ser que os governantes destas regiões exerçam com maior afinco o seu papel e façam uma manutenção mais eficiente e rápida. Mas, também pode ser que o povo que habita estas regiões tenha uma consciência de pertencimento maior e, por isso, exerça com maior afinco o seu papel e preseva os equipamentos públicos, sem destruição, com o zelo necessário daquilo que é do povo por natureza.

Nos povos mais antigos, o sentimento de pertencimento sobre o equipamento público é expresso com veemência. Talvez pela consciência da crueldade da destruição advinda de guerras, de impérios sobre impérios. Talvez porque exista a consciência do “valor monetário” e do “valor cultural” que recai sobre todo o equipamento público, tido pelas ruas, parques, praças, prédios públicos, monumentos, enfim, tudo aquilo que é da sociedade. Tudo aquilo que a própria sociedade cria e mantém.

Este elemento: o sentimento de pertencimento, deveria nos seguir diariamente. Deveríamos olhar para a nossa cidade com o mesmo carinho que olhamos para dentro de nossas casas. Afinal, a nossa cidade é a nossa casa.

Nós devemos utilizar as nossas ruas, parques e praças com o mesmo carinho e cuidado com que utilizamos as nossas casas. Devemos manter limpo, em ordem, sem destruição, sem pichação. Nós devemos exigir dos nossos governantes uma constante e rápida manutenção destes equipamentos para que eles sempre estejam prontos e disponíveis à sociedade que é sua verdadeira proprietária e possuidora.

Nós devemos criar, ou fortalecer, uma consciência coletiva do pertencimento e, para isso, podemos nos utilizar da força dos coletivos e de seus organizadores que podem fazer ações em prol da preservação e manutenção das nossas cidades. Vamos cuidar para ter para sempre!

As manifestações culturais, assim como esta do nosso carnaval, são feitas nas cidades. Será que vemos como as cidades ficam após a passagem destas manifestações? Como deixamos nossas casas, quando saímos? Como queremos a nossa casa quando recebemos um visitante?

Por esta reflexão deixo que todos pensem em como irão usar e cuidar das praças, parques e ruas. Como se sentirão quando verem alguém jogando lixo na rua, pichando uma parede, quebrando um banco de praça, quebrando um chão de praça com uma utilização indevida, destruindo um prédio público, desrespeitando um monumento marco da cidade?   

Pertencimento, ou sentimento? A cidade nos pertence, como a sentimos quando a olhamos?

Nós criamos a consciência social. Nós criamos a nossa identidade. Nós somos os donos de nós mesmos. Se cada um fizer um pouquinho, todos farão melhor!


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