sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

A arte na terra do trabalho

 dalila teles veras


Através de uma "maratona" que durou cerca de 12 horas do sábado 26.11, tive a oportunidade de, mais uma vez comprovar in-loco, que o ABC operário é surpreendentemente múltiplo, popular, erudito, misturalista, capaz de produzir e oferecer opções culturais do mais alto nível, ainda que a massa não se dê conta desses finos biscoitos, feitos de massa especial não produzidos exatamente para a massa.
Manhã de histórias na livraria Alpharrabio, com a magia do teatro de marionetes de Abraão Gouvea, que encantou grandes e pequenos espectadores.
Um grupo de música antiga (Le Folies) na biblioteca Ilva Aceto Maranesi da Pinacoteca de São Bernardo, apresentou composições do século XVI com instrumentos de luthieria produzidos por artistas populares. Canções medievais européias misturadas a música popular nordestina, arte encantatória, fusão surpreendente do erudito com o popular.
Abertura de grande mostra retrospectiva do artista Ricardo Amadasi, há tempos radicado nestas terras suburbanas.  Esculturas monumentais e gravuras em resina, estas fruto de uma fase recente. Denúncia social e delicadeza. A arte de um artista em seu estado de completude.
A Orquestra Sinfônica de Santo André encerrou o dia artístico com um programa (quase) brasileiro, salpicado por acordes vienenses. Almeida Prado, compositor falecido no ano passado, executado pela filha Constança Almeida Prado Moreno, solista de um concerto para violino que reproduz sons cósmicos de estrelas e constelações (presentes na bandeira brasileira). Após breve suite de Debussy, Camargo Guarnieri e sua erudita "brasiliana", marcadamente inspirada na música popular.
Interessante sublinhar que todas estas atrações foram "consumidas" sem que o espectador tenha desembolsado um só centavo, saindo, portanto, de cada uma delas, mais enriquecido (no seu melhor e verdadeiro sentido).
A região do ABC talvez não saiba, mas a arte (também) mora aqui. 

Um comentário:

  1. Esta é a constatação de que existem trabalhos ótimos e que são realizados independentemente do Poder Público. Com divulgação, ou não; com apoio, ou não; as pessoas interessadas se esforçam e fazem. E... Vamos lutando e vamos mantendo a esperança de que algum dia tenhamos ações contínuas, concretas e efetivas por parte do Poder Público e com vistas a dar atenção ao que se chama Políticas Públicas de Cultura. Simone Massenzi

    ResponderExcluir

Se você não tem cadastro no Google, pode deixar seu comentário selecionando a opção Nome/URL no campo Comentar como logo abaixo.