quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Memória da reunião do Fórum Permanente de Debates Culturais e de um Encontro memorável

Dalila Teles Veras

 A reunião mensal do Fórum Permanente de Debates Culturais do Grande ABC,  ocorrida nesta última segunda-feira, 26.9.11, contou com dois momentos distintos. O primeiro, como de praxe, para discussão de demandas do Fórum, como a decisão em buscar formas de representação junto ao Consórcio Intermunicipal do Grande ABC que, após um longo interregno, neste momento, acena para a possibilidades de retomada de  diálogo e participação da sociedade civil.

 No segundo momento, um encontro com um convidado/parceiro especial, o prof. Luiz Roberto Alves que, à guisa de apresentação de seu livro Políticas de Governança, reunião de textos publicados no jornal ABCDMaior ao longo dos últimos cinco anos, presenteou todos aqueles que ali compareceram com uma verdadeira aula magna sobre cidades e regionalidade.

 Após ser apresentado por seu editor, o jornalista Celso Horta, o professor iniciou sua abordagem relacionando a recolha dos textos com a paixão intelectual pelo folhetim, uma tradição brasileira de publicar na imprensa fragmentos do que viria a ser um livro. "Ao juntar, antropologicamente, o objeto muda porque não tem mais a recorrência da memória e o direito da crítica cresce."

 Como não tivemos oportunidade de gravar a bela aula do Professor Luiz Roberto, transcrevo abaixo, algumas das passagens que anotei e que bem podem dar uma idéia de sua fala, àqueles que não puderam comparecer:

- "A gente tem alguma coisa para fazer neste mundo na relação com os outros e aprende, aprendizado nas relações humanas que são políticas".

- "Todo escritor (citando Antonio Candido), tem suas obsessões. A minha, em especial neste livro, é a ideia do ser na cidade. Se é na cidade, é presença crítica, feliz, alegre, presença que faz. A pessoa que vive na cidade morre ali A urbe toma conta de nós. (...) A cidade nos forma e nós também formamos a cidade" (Citando W. Benjamin). "Intercâmbio de motivos e valores, cipó de motivos que vai criando motivos. Eu nunca falei do ser virtuoso ou maravilhoso da cidade. Falo do cidadão comum que cria uma relação amorosa com a cidade, banha-se no mundo urbano e cujo consciência, relação com o não eu, é relação profunda de aprendizado, ação dignificadora do indivíduo, mas que é da coletividade. "

-"Dentre os tipos limitadores da minha obsessão, trabalhar com as políticas, pensar as relações mais próximas como a única maneira de tornar-se universal. Não haverá nenhuma universalidade sem o local. (...) Nestes textos, trabalhei com os mesmo conceitos da Universidade, que não podem ser trocados como moeda por doce. Não podemos nos desfazer do que aprendemos e tentamos uma linguagem acessível, mas mantendo os conceitos que precisam ser mantidos no dia-a-dia, sem perder valores - fixar a escritura sem esquecer da memória - como diria Paulo Freire. Ai de nós se perdermos a capacidade do jogo de valores da escritura para que o leitor possa ampliar os textos e com a memória, que é oral, aumentar o número dos que podem fazer a crítica da sociedade."

-"Dos 40 anos de magistério, tirei 7 anos para ser gestor público. O mundo da administração pública me ensinou todas as virtudes e defeitos da nossa ação de agentes públicos e também a buscar formas de dialetizar atitudes que não são autoritárias. Política de governo não é política possível de se fazer a não ser com o coletivo, com movimentos organizados. Jamais imaginar que a cidade é feita de governos e prefeitos. O povo deve se juntar para a governança, não exatamente governabilidade, termo que não gosto"

Uma rara oportunidade em ouvir e aprender com este intelectual público comprometido com conceitos que não abrem mão do humanismo e bem-comum. No mais, é ler o livro, oportuno, imprescindível no auxílio ao pensar a nossa regionalidade, farol.

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