segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A LEITURA : FÁBRICAS E SINDICATOS

                              Valdecirio Teles Veras

Alguns projetos levados pelo Ministério da Cultura (MinC) não estão sendo devidamente avaliados e apropriados pela comunidade. Os pontos de cultura e os de leitura são alguns deles. Recentemente, Diadema, através de convênio , também, com sindicatos de trabalhadores (Metalúrgicos ABC, Químicos e Construção Civil) e fábricas, instalaram alguns pontos de leitura. O acervo inicial à disposição de leitores, em cada ponto, é de 650 livros. Espera-se que nesta primeira fase cerca de 20 mil pessoas, sejam beneficiados pelo programa.

Quando falo que não estão sendo apropriados pela população, quero dizer que diante da magnitude desses projetos e do empenho do Governo Federal em concedê-los sem grandes entraves burocráticos, pois como diria uma amiga argentina, eles são abertos, mas não escancarados, deveriam ser mais utilizados.

Trata-se, por outro lado, de uma iniciativa que deveria ser seguida por entidades sindicais, no sentido de promoverem a leitura dentro de suas sedes, iniciando pelas minibliotecas ou instalando bibliotecas temáticas, com livros sobre a memória da luta dos trabalhadores. Boa oportunidade para que trabalhadores e aposentados voltem a freqüentar as sedes das entidades, promovendo leituras coletivas e discussões sobre elas. Seria uma boa iniciativa, apesar de não ser inédita, pelo menos no ABC.

A região já vivenciou um período rico de leituras, através de seus grupos de teatro. Em São Bernardo do Campo, no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, formaram-se dois grupos de teatro, o primeiro diretamente ligado a um curso de Madureza promovido pela entidade, o Grupo de Teatro Ferramenta. A leitura e discussão de textos era uma exigência dos participantes.

Um dos alunos, Expedito Soares Batista, dirigente sindical, que chegou a ser eleito deputado estadual, escreveu uma peça de teatro, “Eles crescem e eu não vejo”, relatando o mundo do operário dentro e fora das fábricas, a luta contra as horas extras. Depois foi a vez da fase áurea do Grupo de Teatro Forja, que produziu, entre outras, a peça Pensão Liberdade, de produção coletiva de seus membros. Já que registramos o Expedito como teatrólogo é bom deixar consignado que outro dirigente sindical, hoje, deputado federal, o Vicentinho, chegou a atuar como ator numa dessas peças, e, segundo dizem, um bom ator.

O Sindicato da Construção Civil de São Bernardo do Campo também teve seu Grupo de Teatro, Alicerce e fica aqui a lembrança.

Assim, verifica-se que o sindicalismo no ABC, para que chegasse à combatividade que levou às greves e ao enfrentamento das amarras impostas pelos tempos de chumbo, bem como a obter avanços no campo trabalhista, bebeu em outras fontes, como na política, na cultura e na educação, no teatro de Tin Urbinatti, no cinema de Renato Tapajós, nas lições de José Roberto Michelazzo, nos textos de Luiz Flavio Rainho.

Estas minibibliotecas poderão facilitar e levar os trabalhadores ao contato  com uma ferramenta que ajuda a pensar. A leitura poderá direcionar muitos desses partícipes do movimento sindical, entre as paredes de edifícios, hoje históricos, a reviverem o clima de luta em favor da democracia que alguns ou mesmo seus parentes vivenciaram. Assim, poderão escrever suas memórias, enriquecendo, ainda mais, a literatura  e a memória operária da região a partir dos locais onde tudo começou. 

Um comentário:

  1. A região do Grande ABC ainda não se deu conta de sua história e parecemos estar a começar do zero o tempo todo. Parabéns, Valdecirio, por lembrar que os nossos Sindicatos, protagonistas de tantas conquistas sociais, precisam retomar sua história, de reconhecida importância, da qual a arte e a cultura fizeram/fazem parte. Nisso, a leitura tem papel prepoderante e inquestionável. Aqui, vale evocar, mais uma vez o poeta: "Oh! Bendito o que semeia / Livros à mão cheia / E manda o povo pensar".

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